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O que sinto por ti acaba agora e começa amanhã
«Ficar parado, perdendo a noção do tempo e do comprimento da conversa que estendemos ao sol. Queres falar da razão do amor? Então erraste de novo. Não é a tua vez de dizer que me amas?
Ouço o som que nos aconchega e onde a luz baixa nos chama a dois. Porque quando são duas as vontades, depressa se tornarão em uma só - e quem nunca provou a doçura do afecto.
Detesto amar-te sabendo-te longe e indiferente. Custa-me todos os dias um pouco mais, mas um pouco menos com os anos. Sabes que quanto mais privamos a vista do que o coração sente, melhor ele segue caminho na direcção de outro. E custa-me largar-te em sombras, nas noites que prendem os teus braços aos meus.
Hoje queria ter-te dito o quanto te amava, mas o coração esteve longe, fora do meu peito. Prefiro matar-te agora em luz, que arrastar-te comigo para fundo do meu orgulho e do meu vicio de negar o que está certo.
O que sinto por ti morre hoje e nasce comigo todos os dias. Amanhã amar-te-ei pelo primeiro minuto da madruga e odiarei amar-te em todas as outras horas do dia, até que seja tarde de mais. Até que um dia seja o amanhã, que me segredaste ao ouvido.
Queres falar da razão do amor? Então erraste de novo. É a tua vez de dizeres que me amas.»
Liliano Pucarinho, no night indigo
Prescrevem-te a receita. Dispensas. Fazem-te um plano. Dispensas. Dizem que te roubaram o olhar. Não. Assaltaram-te a casa, perdão, o coração. Não levaram nada. Foram-se embora. Não te levaram.
Já há algum tempo que não encontrava alguém que me conseguisse prender desta forma a um texto. Que me obrigasse a encontrar o momento certo para o ler. Com calma e atenção.
«A música, como a leitura e a escrita sempre me fizeram viver. Vibrar. Os amores também. Muito mais, claro. Nada como um amor agora. É o que me apetece dizer. E fazer. Então um amor com música e leitura... Mas não pode ser. Decido. Não agora. Depois. Prometo. Agora não, que não confio em mim agora. Informo. Sou uma desvairada irresponsável. Tenho a certeza. Revelo. Tenho provas. Que vou guardar. Sou uma cedente e concedente. Capaz de deixar tudo por amor. Uma incapaz, portanto. Tenho testemunhas. Em tempos, devia ter sido inabilitada. Obrigada a andar com um tutor à perna. A minha familia só não me processou por causa do amor por é composta por um conjunto de corações moles.»
Cat2007, no Café Expresso
Ler texto na íntegra, aqui.
Vem e serei teu na rua que nos leva a ver o mar
«Hoje fiz das tuas mãos o meu fogo. Não vês que fujo por entre cada uma das tuas palavras e não acredito numa só? Porque nas madrugadas em que te amo, toco o teu coração mais um pouco e perco-me dentro de ti e da tua vontade.
E esse aperto que me mata por dentro a razão, e esse teu olhar que me consome de longe querendo-me perto… Desculpa se te faço chorar nas noites em que mais precisas de mim. Se de longe te rompo a alma que amo e que nos juntou. Não foi sorte, foi desejo. E quanto não é tão mais forte a vontade que qualquer trejeito do destino…
Os meus braços estão vazios sem ti.
Volta. Traz esse sorriso para perto de mim. Vamos ser nós nessa encosta de sol que suja de amarelo as estradas. Vem cantar-me ao ouvido, vem! E no encontro das nossas mãos encontraremos-nos felicidade em dias calmos.
Vem. Vem para a minha mão e serei teu na rua que nos leva a ver o mar. É duro e feio de se desejar. É tão grande a vontade que não posso ter-te.
Mas vem. Sou tudo para que sejas feliz sem me perguntares porquê!»
Liliano Pucarinho, no night indigo
P.S. Gajos que escrevem bem. Porra, gajos que escrevem tão bem!
E palavras, palavras, que se adequam. Que dizem. Tanto. Tanto.
«Hoje não precisas dizer nada. Não precisas fazer nada. Olha só para mim bem fundo e abraça-me. Aconchega-me toda em ti, no teu abraço. Toda em ti. No teu abrigo. A ouvir o teu coração bater. Escuta o meu. Fecha os olhos e escuta. E sente(-me). Como se tanto eu como tu tivéssemos nascido para este momento imortal. Quem sabe. Quem sabe.»
Daniela, no abraça-me bem
P.S. Palavra por palavra. Podiam ser minhas. Minhas. Tão minhas.
«Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões. Outras vezes uma palavra é quanto basta.»
José Saramago, in Jangada de Pedra
Encontrado aqui, no Tudo o que tenho cá dentro.
Não havia luz que te tornasse melhor
«Não havia luz que te tornasse melhor. Apagaram-se porque sopraste da frente os pedaços que te ligavam ao mundo. E correste. Correste pela encosta e não deixaste que te apanhasse. Ao invés, troçavas do cansaço dos dias e das horas em que sinto falta de ti.
O que te faz desligar e reinventar todas as vezes que deixamos a nossa casa e nos aventuramos nas vidas dos outros? Queres conquistas? Fazemo-las todos os dias, cada um com mais sorte que o outro. E crescem os dias. Levam-nos com eles as milagrosas manhãs de neblina em que abraçados vencemos o frio e acabámos deitados.
No cimo da encosta que subimos, cada um com sua vontade, escrevemos palavras de amor numa correria desenfreada.
Pelo caminho deixámos a vida que os outros querem para nós e que nos sugerem todos os dias. Mal sabíamos, que um dia, seria a nossa a que chegaria primeiro.»
Liliano Pucarinho, no night indigo
«Os silêncios. Todo o tempo é sempre pouco. Todos os momentos são possíveis de serem congelados e suspensos no tempo. E todos os sorrisos são diferentes. E todas as maneiras, todas as palavras, todos os sustos são puro fascínio. Só olhar. Só ficar. Só ver. Só sentir. E os silêncios não incomodam. Há muito que os silêncios criavam angústia e incerteza. E depois as mãos. E depois as palavras. O eco das palavras. O timbre das palavras. O isolamento de tudo em torno dessas palavras. A ausência das palavras.
Os silêncios já não me incomodam.
Quando a única certeza era a de que, mais do que grande parte da população conseguia, mais do que os infelizes que nunca tinham tido a oportunidade, mais do que ter a oportunidade, eu tinha tido tudo nas mãos, um dia. Tinha esperança num novo fôlego, mas tinha a certeza de que nada seria igual, e que haveria alguém que ainda não tinha feito a primeira viagem e no meio dos desígnios divinos e das oportunidades, eu poderia estar a roubar o bilhete da oportunidade a esse alguém. A hipótese era aceite e abafada pela certeza de que nada fora em vão.
Acordei, tinha o bilhete, a passagem nas mãos e corroía-me a alma. Não sei o caminho, não conheço a viagem, não quero saber a duração… pelos silêncios ou pela ausência deles.
Tive sorte. Voltei a acertar nos números.»
P.S. E em silêncio estava eu. Quebro-o agora, como poderia não o quebrar? Porque não importa o número de seguidores de um blogue, o número de visitas ou de comentários - interessam sim, aqueles 4 ou 5 que valem por mil. E esses, esses, vão para além do blogue.
A emissão retoma-se aos poucos, com palavras dos outros, palavras, simples palavras, música, literatura e fotografia. Pelo menos até eu decidir quebrar o silêncio das minhas próprias palavras.