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Blue 258

Blue 258

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01
Dez10
carência
s. f.
1. Falta do preciso.
2. Necessidade.
3. Privação.

O cair da noite  trouxe à flor da pele a falta que o meu coração sentia. Uma falta que apesar de não ser física, se torna latente em cada músculo, em cada fibra do nosso corpo. Um movimento, por mais leve que seja, aviva a dor do que pensas sentir. Traz à superfície o que pensavas esconder tão bem lá no fundo. O que colocaste num baú fechado a cadeado, e resolveste guardar, como um tesouro, bem no fundo do mar. Enterraste na areia fugidia, moveste pedras, temendo que mesmo assim se libertasse. Cobriste com a pressão das águas. Com a imensidão da profundidade. O  cair da noite reavivou a carência em  mim.

 

 

«posso contar pelos dedos da minha mão direita, o número de vezes em que toquei a tua pele. e sobra. decidi não relembrar o dia em que tudo começou, já passaram meses, mas achei supérfluo contar os dias. também acho que não os contas, ou que não tens onde os contar. ainda me deixas nervosa, e nem sempre sinto que tenho permissão para te tocar. assustas o que em mim ainda resta sentir. deito-me ao teu lado durante a noite e a intimidade que nos calha no olhar, não se deixa derreter até algo sólido. durmo do lado da janela, e apesar de querer, temo que o meu pé junto ao teu seja inapropriado. estranha relação, esta. onde falar é campo minado, onde tocar é algo escorregadio que por vezes perde a importância entre amantes. medo, metes-me medo.»

 

adele shulze. no velhos hábitos