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Blue 258

Blue 258

...

Não me morras nunca

17
Out10

Dou por mim a pensar no tempo. No tempo que decorre e discorre intravenosamente, sem nos pedir licença, sem nos pedir perdão. Perdão pelos segundos, pelos minutos, pelas horas que nos rouba sem misericórdia, impiedoso, incontrolável, assassino a sangue-frio.

Perco-me na imagem desfocada que ainda guardo de ti. Fotografia corroída pelo tempo. Papel empedernido, desgastado pelas vezes sem conta que te voltei a segurar nas mãos, que te segurei junto do peito. Imagens, momentos, recordações. O teu olhar. O teu sorriso.  Os contornos do teu rosto. Temo a recordação que a ausência fará de ti.

Eis que o tempo se entranha no meu corpo. Debilita, como doença maldita que nos rouba a memória. De momentos, de quem fomos, de quem ainda somos. Discorro no tempo. Penso num mundo sem ti. Penso em mim, sem ti. Não encontrar mais esse sorriso. Esse olhar profundo que nos embriaga e desperta ao mesmo tempo. Não  me morras nunca.

 

 

"do they collide?"
I ask and you smile.
With my feet on the dash
The world doesn't matter.

 

 

E abraçar-te agora?

18
Set10

Isso é que era. Apertar o teu corpo contra o meu. Sentir o coração a bater descompassado no peito. No meu e no teu. Pousar a cabeça naquele sítio. Naquele. Aquele que é meu e só meu. Aquele que parecia estar à minha espera. E terminar a tarde nos teus braços.  Esperar pelo pôr-do-sol, perdida nos teus beijos. Sentir a noite salgada abater-se sobre a areia. Deliciar-me com o teu sorriso. Abraçar-te ainda mais forte, movida pelo frio que se começa a fazer sentir.  Abraçar-te na procura do teu calor. Afundar-me na tua ternura, na tua serenidade. Nesta noite, céu estrelado - se bem que nada é mais envolvente do que o brilho do teu olhar - o mais belo dos últimos tempos.

 

#43 Espero por ti

22
Jul10

Sentada no sofá. Aconchegada no teu abraço. Cabeça pousada naquele sítio, naquele, naquele... tu sabes, tu sabes... Envolta por uma doçura que parece não ter fim... e o teu cheiro impregnado em mim, em mim, em mim... E espero o toque das tuas mãos, o calor do teu corpo, o mel do teu olhar... enquanto os meus olhos vislumbram a chuva que brinca na praia e o vento que acaricia a vidraça. Espero por ti, na casa da praia, aquela, sem vizinhos por perto.

 

 

Give me more than one caress
To satisfy this hungryness
We are creatures of the wind
Wild is the wind

 

O marulhar sobe de tom e o vento sibila a tua ausência... o mar ama revoltado, voltando-se para a lua, suplicando a sua doçura. E a lua, impávida e serena, parece troçar lá do alto. O mar, agora encrespado, procura lançar o seu manto salgado cada vez mais alto. Quer atingir a lua, tocá-la, envolvê-la, e diluir-se na sua doçura. Falha, e rebenta a sua fúria nas rochas. Maldiz a lua e jura amor ao sol. Ao sol, a quem vê indiferente de dia. Ao sol.

Mas é a lua que ama, foi esta quem  o enfeitiçou. E eis que chegas tu, acalma a revolta lá fora,  e um calor se apodera do meu corpo. Entras, e ao ver-te, o meu coração bate descompassado a melodia afinada do amor. Aproximas-te, e os acordes soam mais alto. Levanto-me e voo na tua direcção: já o coração pula de emoção. Corro para o teu abraço, inspiro profundamente o cheiro da tua pele, uma e outra vez... mais uma vez. Resguardo o meu corpo no calor do teu, afundo-me na tua doçura, perco-me no castanho dos teus olhos. Acaricio-te o rosto, e ronronando como um gato, peço-te: abraça-me com força. Abraça-me...

Abraça-me. E tu sorris, desarmando-me, quando desarmada estava eu, e mesmo que não estivesse, ao ver-te sorrir com o olhar, deixo cair as armas ao chão, e ao ver esse sorriso doce nos teu lábios, perco as forças, e rendo o meu corpo ao teu. A ti. À tua vontade.

 

You... touch me... I hear the sound of mandolins
You... kiss me... With your kiss my life begins

Love me, love me... Say you do
Let me fly away... With you

 

 

...

19
Jul10

Parados. Imóveis. No ambiente frenético do café. Calados num silêncio ruidoso. Deixamos que o olhar fale, e como fala! Discorremos numa conversa que só nós entendemos, só nós parecemos perceber. E falamos. Sem cessar. A dada altura, dizes-me:  falas tanto com o teu olhar... o teu silêncio diz tanto. E é então que perguntas: vamos continuar a falar calados? E eu, presa nesse teu olhar vivo,  penso em perguntar-te o que te dizem os meus olhos... mas sorrio calada: não quero saber o que te diz o meu olhar.

 

Dizer-te

27
Mai10

Dizer-te que ao despedir-me de ti, desviei o meu olhar do teu.

Procurei fugir. Confesso: fugi. O olhar fala demais.

O que te diriam os meus olhos naquele momento?

 

E procurei não olhar o teu rosto, o teu pescoço, a tua pele.

Lembrar-me do teu perfume, do teu cheiro, do teu calor.

E entretanto, era no teu beijo que pensava. Dizer-te.

 


#38 Dança comigo

24
Mai10

 

Uma harmonia deliciosa espraia-se pela casa.  Entusiasma a madeira. Trespassa a pedra.  Desafia a areia. Insinua-se no mar. Perde-se na crista das ondas.

Vem almoçar a casa. Salada de legumes frescos e  nozes. Lombo assado com ananás. Vinho tinto.  Tons de vivacidade polvilhados pelas orquídeas selvagens, aqui e ali.  Azuis profundos, roxos exuberantes, amarelos luminosos, vermelhos imperiais. Vem almoçar a casa... aquela, na praia, sem vizinhos por perto.

 

Oiço-te chegar. Espero-te à porta. Entras e beijas-me num abraço. Aquele abraço que alimenta... e tempera a alma. E nesse mesmo abraço  enlaço-te firmemente pela cintura e a minha boca suspira: dança comigo.

Num abraço ainda mais apertado, beijas-me o pescoço, os ombros... as tuas mãos percorrem as minhas costas, o pescoço, os ombros... também elas beijam. Também elas querem beijar. A tua mão esquerda afunda-se no meu cabelo e a direita conquista os meus lábios... que sem demora cedem aos teus.

Com esse olhar enlevado de ternura... o mesmo que tens neste momento, sorriso malandro nos lábios, esse, esse mesmo que te aflora agora aos lábios, apertas o meu corpo contra o teu, e sussurras ao meu ouvido:

 

When we dance, angels will run and hide their wings

 

 

E eu entrego uma vez mais a minha boca à tua. Dou-me por inteiro num só beijo. No teu beijo. E num beijo sabes que sou tua. Um beijo que é entrega mútua. Beijamo-nos como se o amor não tivesse fim. Os corpos rendem-se à paixão... As almas ao amor.

 

 

The priest has said my soul's salvation
Is in the balance of the angels
And underneath the wheels of passion
I keep the faith in my fashion
When we dance, angels will run and hide their wings

 




Dreams in fog

07
Mai10

E eu acho que esta noite sonhei com o Jude. É verdade, já andava com saudades dele. Mas aparecer-me assim, nos sonhos, sem avisar, não está com nada. Estava tudo muito enevoado, embora conseguisse reconhecer-lhe perfeitamente o sorriso malandro e aquele olhar delicioso.

Para a próxima, Jude, ficas avisado: prepara-me um jantar à luz de velas. Num jardim romântico. Com um belo de um vinho cor de sangue. Pelo menos isso. Não se assaltam assim os sonhos sem mais nem menos. Há que ser cavalheiro.

 

 

#32 De olhos vendados

17
Fev10

Roubaste-me a alma. Vi-me nas tuas mãos, como há muito não me via nas mãos de alguém. Como há muito não me entregava... desta forma. De corpo e alma. Ao permitir que os meus olhos te mostrassem o que mais ninguém parece poder ver, deixei que visses o mais profundo da minha alma. E  um pedaço de mim pareces ter arrancado...  e agora, vejo-te nesse sonho acordado, embrenhado, no que os meus olhos te revelaram. Preciso acordar-te. Distrair-te desses pensamentos. Prender, de outra forma, a tua atenção.

 

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#31 Olhares

15
Fev10

 

Refugias-nos do frio, no calor da casa, aquela, sem vizinhos por perto. Na sala, laranja e canela, os aromas quentes balançam  ao som da música que continua a tocar. Mantendo-me nos teus braços, deitas-me suavemente no sofá. Sob uma penumbra mascarada pelos tons de fogo da lareira, envolves-me num beijo  doce. Repousas o teu olhar terno sobre mim. Sorriso embevecido. Sinto o mel que escorre dos teus olhos inebriar-me lentamente, sinto os sentidos cederem, sinto-me perder qualquer resistência. Sinto o teu olhar perscrutar-me a alma. Encontro-me rendida nos teus braços... e eu sei, eu sei,  que neste preciso momento, os meus olhos nada te escondem - tudo te revelam, sem qualquer restrição.

 

... )