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Blue 258

Blue 258

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One missed sunset

20
Out10

Hoje vi o pôr-do-sol, ou o que dele consegui ver, da janela do quarto. De um quarto qualquer - perdido numa cidade que já foi minha - agora  meu. Saio e vejo a lua quase cheia, mesmo à direita do Bom Jesus. A lua brilhante no céu negro, e a fachada pálida do santuário. Magnífico.

 

Falta-me o meu quarto. O meu. As minhas coisas. Os meus livros. Faltam-me os quase 97 gigas de música que tenho no pc de casa.

Sei (ou sinto) que me falta o pôr-do-sol, a praia, o mar, aquele cheiro a maresia. Disseram-me que terá outro sabor ao fim-de-semana. Vindo de quem veio, considero isso como uma promessa, e logo eu que não gosto de promessas, assumo como certo e garantido de que assim o será.

 

 

My crimson sunset

18
Out10

 

©Blue258

 

 

 

Se há local que eu procuro quando quero acalmar as ideias, é a praia. A minha praia de eleição. Aquela praia. Aquela. Algo de muito particular sucede neste lugar perigosamente mágico. O silêncio ensurdecedor do mar. A força retemperadora das águas. A calma aparente da areia. O perdermos o olhar no horizonte para apenas o encontrarmos depois, ali.

É aqui que venho quando quero silenciar o que me assalta o pensamento. É aqui que encontro a calma e a serenidade que, por vezes, me parecem faltar. Quase sempre consigo deixar que o vento me trespasse o corpo. Que o marulhar me trespasse a alma. É um libertar e um esquecer simultâneos. Não sei como é possível este libertar e esquecer; penso que seja possível pelo facto de nos esquecermos de nós próprios,  mesmo que por breves momentos, ou de nos libertarmos daquilo que nos prende. Mas conseguimos. De alguma forma que eu não consigo precisar, conseguimos. Por vezes, e também não sei agora se pela aparente calma do mar nesse dia, se pela insurreição tenebrosa do nosso espírito nessa hora, há dias em que os pensamentos não são silenciados, não, assiste-se apenas a uma redução do volume, são como que colocados em segundo plano, reduzidos a barulho de fundo.

 

Se há momento que adoro, é mesmo o do  pôr-do-sol. Espero sentada, maravilhada. Deixo que o sol desapareça por completo. Aprecio as faixas avermelhadas que mantêm decididas a insinuação no horizonte. Provocam o azul do mar, que se mostra repetidamente mais negro. A noite que nos envolve por completo. O frio que nos diz ter chegado a hora de ir para casa. De partir, e deixar o mar para trás.

 

 


The time has come to cast these words from me
And take me to a place where I can be

 

And I’ve seen the crimson sunset shine a thousand times
And I’ve seen the oceans mystique, tide by tide
And I’ve seen all that’s there to be seen
But I can’t seem to find me

 

O pôr-do-sol não espera por ninguém

11
Out10

 

©Blue258

 

 

Percorro mais de sessenta quilómetros, apenas para o ver. Para o encontrar, e com ele, abraçar o fim do dia.  O relógio, marca as sete e meia da tarde. As horas, que marcam o seu próprio compasso, outro diferente do meu, dizem-me atrasada. Encontro o mar negro de azul, o vermelho intenso do sol, o pálido branco da lua. E eu, teimosa, sussurro, cheguei, ao abraçar-te.

 

 

 

 

Fly me to the moon
Let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words, hold my hand
In other words, darling, kiss me

 

# 49 O cheiro da chuva

03
Out10

O vento perde-se em brincadeiras: enleva docemente as primeiras folhas caídas do Outono. Enleva-nos a todos na doçura do frio, este frio que é bom, que nos abraça no calor do nosso corpo.

Já as nuvens se movimentam no céu ainda azul - a chuva não tardará muito - dirijo-me para casa, embalada pela frente fria. O meu olhar perde-se ao longo da costa, no areal branco, no mar em tons de azul, nas rochas negras. Ergo o olhar, perco-me na imensidão do horizonte, deslizo pelo céu polvilhado de nuvens. Envolvo-me nos meus braços. O frio. Este frio bom que pede aconchego, pede o calor do teu abraço.

Sinto as primeiras gotas de chuva acariciarem-me o rosto. Uma delas desliza pela pálpebra direita; resvala nas pestanas e pende, e ali permanece, presa num hiato de tempo, querendo lançar-se no rosto e ao mesmo tempo querendo ali permanecer. Outra gota beija-me os lábios: prendo-a, lambendo os lábios e retendo o seu sabor. Deslizo a língua pelos lábios. Penso no teu sabor. Mordo os lábios. Demorarás muito a chegar? A casa, aquela, na praia, sem vizinhos por perto.

 

 

Down here the river, meets the sea
And in the sticky heat I can feel you open up to me
Love comes out of nowhere, baby, just like a hurricane
And it feels like rain and it feels like rain

Lying here underneath the stars right next to you
And I'm wondering who you are and how do you do? How do you do, baby?
Clouds roll in across the moon and the wind howl out your name
And it feels like rain and it feels like rain

 

Deixo a porta aberta para que os aromas de Outono se instalem, mesmo sem pedir licença. Sente-se a humidade no ambiente da sala. O cheiro da chuva que já cai lá fora. Aquela chuva boa, que cai como que sem querer. As cortinas corridas emolduram a vidraça  que espelha o extenso areal e o mar que o banha. Perco novamente o olhar no horizonte. Demorarás muito a chegar?

 

Oiço-te chegar. Estacionas o carro e já os teus passos se dirigem para a porta da frente. Aproveitas para entrar em casa, vendo o mar, absorvendo o cheiro a maresia, deixando que o salgado tempere a doçura do teu rosto. És como eu: amas este mar. Faz parte de ti, tal como de mim. Somos feitos do mesmo.

Saio para abraçar-te no alpendre. Recebes-me com um sorriso. Eu, com o coração. Ambos em silêncio; sabemos que chegaste a casa, e que agora sim, estou em casa. Eu sou tua e tu és meu. Passo as minhas mãos pelo teu rosto. Olho enlevada para o teu olhar profundo, para esse sorriso que me prende, passo a mão direita pelo teu cabelo, as pontas dos dedos brincam com as gotas de chuva. Seguras a minha mão esquerda com a tua, aproximas os lábios, e beijas-me a pele. O meu coração estremece. Eu sou tua e tu és meu.

A minha mão direita acaricia-te o rosto, os dedos tocam os teus lábios ao de leve. Deslizo pelo pescoço. Seguro-te pela nuca  e aproximo o meu corpo do teu. Absorvo o teu perfume, o teu cheiro, beijo-te com a respiração. Prendes-me junto a ti, envolves-me nesse teu abraço. Enlevas-me como faz o vento outonal. Sei amar-te. Rendo-me ao teu abraço. E rendida, beijo-te ao de leve nos lábios. Vejo nos teus olhos a cena que acabou de se passar, percebo como te deixaste estar, como compreendes este ritual que eu não consigo deixar de fazer. Vejo-te sereno, de sorriso nos lábios. És a minha fonte de serenidade. És. E eu sou tudo, nos teus braços. Pouso a cabeça no teu peito, naquele sítio, naquele. E é quando te digo, vamos, vamos para dentro.

 

Ao olhar-te de novo, embevecida, derretida, pegas-me ao colo e levas-me para a sala. Pousas-me delicadamente no sofá. Beijas-me na testa, nos olhos, no rosto, no queixo, no pescoço. Finalmente, sinto a tua boca na minha e já o meu corpo implode de desejo. Abraço-te ainda com mais força. Sinto o corpo a querer prender-te com todas as forças. A roupa voa pela sala, cai tranquilamente no chão, enquanto que a tempestade, essa, somos nós que a criamos. Os corpos movimentam-se sob a cadência do desejo. Oh desejo! A pele resvala entre o calor e o frio. O fogo implode agora violentamente na alma. O cheiro do meu corpo guarda o do teu e o cheiro da chuva. E eu beijo cada gota de chuva na tua pele. Os lábios conquistam, a língua apossa.

 

Tudo se resume a condensação. Tudo. Cada gota de suor no teu corpo. Cada gota que escorre pela vidraça. Cada gota de chuva que sulca a areia lá fora. Cada gota que se junta ao salgado do mar. Cada gota que sorvo, deliciada. Cada gota tua. Cada gota.

 

 

 

 

 

Participação de Outubro

 

 

E abraçar-te agora?

18
Set10

Isso é que era. Apertar o teu corpo contra o meu. Sentir o coração a bater descompassado no peito. No meu e no teu. Pousar a cabeça naquele sítio. Naquele. Aquele que é meu e só meu. Aquele que parecia estar à minha espera. E terminar a tarde nos teus braços.  Esperar pelo pôr-do-sol, perdida nos teus beijos. Sentir a noite salgada abater-se sobre a areia. Deliciar-me com o teu sorriso. Abraçar-te ainda mais forte, movida pelo frio que se começa a fazer sentir.  Abraçar-te na procura do teu calor. Afundar-me na tua ternura, na tua serenidade. Nesta noite, céu estrelado - se bem que nada é mais envolvente do que o brilho do teu olhar - o mais belo dos últimos tempos.

 

Se eu podia ter usado o corrector ortográfico? Podia, mas não era a mesma coisa

03
Ago10

Isto a respeito do post anterior, claro. Quando o corpo nos ferve, o sangue está prestes a entrar em ebulição, e o coração a ponto de ter uma síncope, todos os segundos são vitais. E era urgente e premente mergulhar na noite. Afundar-me em finos fresquíssimos e cocktails manhosos. Ah, e uma nota muito importante relativa aos cocktails: tenham cuidado, sim cuidado, muito cuidado. Quando são outros a pedir, quando nem sequer sabemos o que raios nos servem naquele copo que parecia ter litro e meio, tenham cuidado, sim, cuidado, muito cuidado. Quando se prova e nos parece doce, tão doce que aparenta nem ter vestígios de álcool, tenham cuidado, sim, cuidado, muito cuidado.

E porque ainda era noite quando, de madrugada, entrei em casa, porque os olhos pesavam, o corpo queria cama, mas a alma, ah,  a alma, essa, vagueava ainda livre por aí. E as olheiras que hoje apresento no rosto, são prova de que vivi, e sim, as férias começaram, e eu vivi, e vivo e as olheiras dão-me um ar querido e condizem com o castanho dos meus olhos. E hoje sinto-me linda, sim, linda. E de tarde vou para a praia, para a pele ficar morena e o meu estado de espírito condizer ainda mais com o brilho dos meus (teus) olhos castanhos.