Espaço
Uma mala. Imaginemos uma mala. Agora não importa o tamanho. Seja ele qual for, há um espaço. Há a forma correcta - a mais organizada, a mais certinha, seja o que for - de fazer a mala. Não vamos, por exemplo, colocar os frascos de champô e gel de banho, assim, sem mais nem menos, ao lado dos fatos caríssimos. Não, isso não. Para isso serve a bolsa de toilette - é para isso que se destina. Tem lógica, ou não? Claro que tem, era tipo uma pergunta retórica. Tipo, porque não o é propriamente, ou totalmente.
Os sapatos - não vamos colocar os sapatos, nem que sejam Laboutin ou o raio que os parta, ali num ménage descarado com as sedas do nosso vestuário. Não é propriamente higiénico, e eu diria mais: é uma porcalhice. (Ando com uma escolha de palavras deveras interessante, não haja dúvida. Nenhuma.)
Ultrapassadas estas questões mais básicas, põe-se o problema de acomodar a roupa. Temos um espaço finito - que por mais que se desespere não há forma de expandir - e é nesse espaço que temos de acomodar o que pretendemos levar connosco. Se quisermos levar roupa, mais do que a necessária, acabamos por nos ver forçados a entalar o vestuário, a comprimi-lo, umas peças contra as outras, sem qualquer espaço de manobra, sem permitir a circulação do ar. E convenhamos, tratando-se de fatos caríssimos, merece os devidos cuidados. Da mesma forma, se levarmos pouca roupa, não a acondicionamos devidamente, e isso, também não é nada bom. Vai a roupa andar ali, aos trambolhões, dentro daquela mala tão pouco acolhedora. Não pode ser, é que não pode mesmo.
Daqui se infere (novamente, uma excelente escolha de vocabulário - mesmo ao nível de trambolhões) que há um número x ideal de peças a levar connosco. Torna-se quase obrigatório - eu já explico este quase - evitar o excesso e o défice. Até aqui, tudo bem, vamos lá ao quase. Digo quase obrigatório porque muitas vezes, se não de quase todas, insistimos em levar a mais, ou a menos, connosco. Se levamos a menos, corremos o risco de não estamos devidamente prevenidos - podemos contar com sol, e levar com chuva -; se levamos a mais, temos que arcar com aquele peso excessivo em cima do lombo (olha agora, que linda escolha de vocabulário).
A porra toda (mãe, desculpa, sei bem que não foi esta a educação que me deste) é que acertar com o número certo de peças de vestuário, é fodido. É que é mesmo fodido. E se a isso, lhe juntarmos o número de sapatos que vamos levar... ui, aí é que a coisa se torna ainda mais fodida. E os sacos? As carteiras? Esta condiz com aqueles sapatos, aquela com os outros, preciso desta para usar com as botas, etc, etc. Estamos fodidos. É o que vos digo. Fodidos. É que esta treta do espaço, pode até parecer que não, mas é muito importante.
P.S. Nunca é demais relembrar: vem aí o meu aniversário. Já sabem: mala rígida Samsonite. Não importa a cor. De bom tamanho. Shock resistant, se houver.