#32 De olhos vendados
Roubaste-me a alma. Vi-me nas tuas mãos, como há muito não me via nas mãos de alguém. Como há muito não me entregava... desta forma. De corpo e alma. Ao permitir que os meus olhos te mostrassem o que mais ninguém parece poder ver, deixei que visses o mais profundo da minha alma. E um pedaço de mim pareces ter arrancado... e agora, vejo-te nesse sonho acordado, embrenhado, no que os meus olhos te revelaram. Preciso acordar-te. Distrair-te desses pensamentos. Prender, de outra forma, a tua atenção.
Os meus dedos brincam com a fivela do teu cinto. Discreta e elegante. Como tu. Tiro-te o cinto, num rompante. Faço estalar o couro. O som vibrante parece despertar-te desse sonho profundo. Faço-o estalar novamente. Diriges o olhar para o cinto, estrangulado na minha mão. Deslizas pelo braço descoberto. Perdes-te na alvura da pele, e procuras caminho para o meu rosto. E aí se demora o teu olhar. Nos meus olhos profundamente abertos, o castanho mel que te procura hipnotizar, o sorriso malandro e doce, que te procura encantar. Sorris, deliciado. Agora, sei que tenho a tua atenção.
Deslizo os dedos frios pela tua barriga, e, provocadora, começo a despir-te as calças. Lentamente. Vagarosamente. Falamos com o olhar. Pensamos no mesmo.
Num ímpeto, alcanças as minhas mãos, e já o meu corpo se encontra sobre o teu. Já os teus lábios se perdem nos meus. E os meus nos teus. Nesse beijo louco que é o teu! Perdida estava eu bem antes de conhecer os teus lábios, e, depois de os provar, apenas escalou a sede. Esta sede. Sede dos teus lábios, da tua boca... de beber o mel do teu corpo.
Vendo-te os olhos, com a tua gravata. Dou-te a provar o meu beijo quente. Provas, saboreias, e queres mais. Mordo-te o queixo, o pescoço, o lóbulo da orelha. E... beijo-te novamente. Como que, procurando refrear-te, apoio firmemente a mão no teu peito e pressiono o teu corpo contra o sofá. Aí te procuro manter, enquanto molho a boca com Martini, bebendo da garrafa.
Instintivamente, mordo os lábios. Sei que não o consegues ver, mas o calor já abrasa a pele. Encosto o meu rosto ao teu, deixando-te sentir o calor intenso e o hálito doce da minha boca... E a tua, lança-se à procura da minha, e eu, impiedosa, detenho o avanço. Mas não resisto por muito tempo... e beijo-te novamente. Apaixonadamente.
Cada beijo é uma loucura, doce loucura, à qual nos entregamos, uma e outra vez. Bebo mais um gole de Martini. Dou-te a beber. Cada gole, cada beijo, cada toque, potenciados pela privação de um dos sentidos. Oculto-te a visão, mas permito que sintas. Quero que sintas... cada toque meu.
Deixo-te com esse sabor na boca... e delicio-me com o teu corpo. Saboreio...
O salgado da tua pele, evidenciado agora pelo álcool doce. O teu sabor, esse sabor que me arrasta, que me prende e enfeitiça! Vou deslizando a língua pelo teu corpo. Páro subitamente, e beijo-te. Faço deslizar novamente a língua. Páro, e mordo-te. Quero pôr-te fora de ti. Completamente fora de ti... completamente!
E para lá prossigo... deslizando.