A casa dos meus avós
É inacreditável como uma casa pode representar tanto, ser tanto, respirar vida como se aqueles que nela moram lhe dessem o alimento que a faz ter alma. Nestes casos, o edifício em si funciona como um prolongamento da família que lá habita - é um fiel representante dessa família: da sua personalidade, dos seus humores, de todos os grandes momentos da sua vida.
Quando passo e olho para a casa, sou subitamente assaltada por memórias que discorrem incessantemente umas atrás das outras - memórias tão reais ( quase ) como a própria vida. Recordo aqueles que lá nasceram e depois partiram para também eles, terem os seus filhos; recordo netos que por lá tanto brincaram, aprenderam, cresceram - e todos, mas todos, deixaram um bocado de si naquela casa. Por isso aquela casa era como se fosse um ser vivo, tinha personalidade, carácter, alma - representáva-nos a todos, e todos nós a representávamos a ela. Agora passo por lá, e todas estas memórias, vivas, tão vivas - ainda tão vivas - atropelam a minha mente inquieta. Agora passo por lá...e o que vejo é, e apenas é...uma casa, sem habitantes, mais escura, denegrida - talvez até pelas afrontas do tempo- mas concerteza pela ausência de vida. Agora passo por lá, e dói forte o peito - pergunto-me onde estão aqueles que enchiam aquela casa de vida -onde estão eles, que agora já não estão aqui porque aquela casa já não mostra ter alma. O peito dói tanto que compreendo agora: já não é só a casa que não tem alma - também a mim me faltam pedaços... pedaços que lá deixei.