Porque é que, continuamos a fazer coisas que sabemos não querer, que sabemos exactamente como se vão desenrolar, que sabemos ser um sacrifício durante cada minuto da sua duração?
Logo hoje. Hoje que é um daqueles dias em que me sinto como me sinto. É um daqueles dias em que só quero o meu canto. O meu resguardo. Poder estar sossegada com os meus pensamentos. O meu mais-que-tudo, esse, thank God, dá-me espaço. Já deve saber que quando estou assim, o melhor é deixar-me estar tranquila um bocado. Deixa-se estar no outro canto da salinha - sei que vai olhando de quando em quando para mim, imagino que seja para ver se estou bem, se o meu estado mudou, ou se simplesmente preciso de algo. Eu também vou olhando para ele, mas no meu caso é mais para me assegurar que ainda ali está - que não se fartou e foi embora. Corro o risco de isso acontecer.
Mas pronto, acabamos por ir. Tentamos convencer-nos de que o que interessa, o que é realmente importante, não é esse sofrimento que já estamos a sentir, mas o contribuir para a felicidade de alguém, dar-lhe essa pequena alegria. Se fosse outa pessoa qualquer, era logo um vai depressa ver se eu estou ali na esquina.
Não vou. Não quero ir. Mas já estou a ir.
Já cá estou. Otária, sabias muito bem como ia ser.
Como está a ser.
E pronto. Cá estou eu.
Não oiço nem escuto uma palavra do que dizem.
Penso em palermices. Patetadas.
Praticamente não abro a boca.
Não estou cá. Já vou longe.
Perdida nos meus pensamentos.
Sabia que hoje não era dia.
Sabia como me sentia.
Queria estar sozinha, sossegada no meu canto.
Mas não. Acedi a vir.
Posicionada estrategicamente num canto.
De onde vejo todos.
De onde, para me olharem - querendo dirigir-se a mim ou não
Só olhando-me de frente.
O que me chama a atenção.
Alertando-me para executar um movimento
que transmita, sim claro, estou a ouvir-te
No I'm not. But that doesn't matter. Doesn't matter at all.
Sofrimento. Dor excruciante.
Aguenta, otária - sabias bem que não querias vir,
sabias bem como ia ser.
Aguento os insuportáveis segundos
Que claro, levam uma eternidade a passar.
Aguento. Aguento.
A certa altura, e num repente,
Penso no meu rosto.
Aoh! Estava demasiado alheada e perdida dentro e fora de mim,
que acabei por descurar um aspecto tão importante.
E agora? Sentia as olheiras cavadas sob os olhos.
Os cantos da boca descaídos.
O rosto duro.
O olhar - ausente com toda a certeza.
Tento recompor-me, sabendo que está perto do fim, que está quase a acabar.
Tento pensar, que se alguém comentar, dou a desculpa do cansaço.. e do tempo.
Resulta sempre.
Finalmente lá acaba.
Os mesmos pensamentos de sempre:
nunca mais me meto numa destas
eu já sabia tão bem que ia ser assim.
Conduzo no regresso.
Silêncio. Dos dois lados.
Um pouco incomodativo (para mim não, claro - o silêncio era tudo o que queria)
Para não deixar aquilo assim, faço um esforço digno da força de Hércules para falar.
E este tempo, não?
E pronto. Já cheguei a casa.
Corro lá para cima, para junto do meu mais-que-tudo.
Conto-lhe que fora um tormento.
Em breves palavras. Poucas, mas cheias de sentimento.
Volto-me para o meu cantinho.
Pareço querer acariciar o vidro da secretária.
Como é bom estar em casa.
Olho por cima do ombro,
asseguro- me que o meu mais-que-tudo continua ali.
Entretido com um filme ou um jogo,
parece disposto a dar-me mais algum tempo só para mim.
E pronto. Sei que posso emaranhar-me de novo nos meus pensamentos.