You wanna feel how it feels?
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... pelo desejo. Pelo fogo, que me verga à sua vontade. Por ti. Por ti...
Por ti, que hoje, te revelas meu dono e senhor. Por ti, que hoje, me tens nas tuas mãos. Por ti, que aqui, me tens ao teu dispor. Por ti, que hoje, provas poder fazer de mim o que queres. O que queres. O que quiseres...
Pelo fogo que hoje te consome.
E eu... desejo consumir-me no teu fogo. Nesse teu fogo que a mim alastra. Temerariamente. Esse teu fogo que me incendeia... e ardo, como ardo. Esse fogo que já não é teu, apenas teu. É meu, também meu. E daqui a pouco... um, e apenas um, que nos consumirá aos dois.
A cada vez que esse teu fogo doce e envolvente, me penetra, sinto o seu poder alastrar, atingir proporções desmedidas. A cada vez... e cada vez mais.
A cada vez que te sinto, inflama o fogo que arde em mim. A cada vez que me possuis, inflama o fogo que arde em ti. À medida que alastra, revela a sua força escondida, o seu poder oculto. Tal como tu.
E eu, apenas... ardo, como ardo! Como me fazes arder... A cada vez que me possuis - colocas mais de ti, dás mais de ti - a cada vez. Quisesse eu resistir... não o conseguiria. Já não sou dona de mim. Já não tenho poder, vontade... apenas ardo. Sinto a alma escapar-se do corpo, soltar-se de mim. Levita. Acima do meu corpo em chamas. Levita. Etérea. Imortal.
Pelo fogo que hoje me consome.
Sei bem que atinges o limiar da loucura, quando sou assim, tua, sem limites - e mais ainda raias a loucura, ao sentir que hoje, é um desses dias. Sinto que saboreias na boca o poder que possuis sobre mim, quando me entrego desta forma. Quando me possuis desta forma. Procuras não pensar nisso, afastar esses pensamentos da tua mente... mas não consegues.
Apercebo nos teus olhos a tresloucada luta pelo poder - entre o controlares esta possessão nas tuas mãos, em a saboreares até ao máximo, em a fazeres perdurar... e o lançares-te no fogo que já nos consome.
Não sorris. Procuras não te distrair. Procuras resistir ao avanço das chamas. Procuras atrasar o momento em que te entregas, em que te dás por perdido, em que finalmente te lanças no fogo.
Até chegar o momento em que cedes. Sem restrições.
E eu ardo, como ardo! Como as moléculas volatilizadas do malte que bailam à nossa volta, também eu sinto as moléculas do meu corpo que entram em combustão, e se soltam, por breves momentos, levitando limitrofemente. Separam-se... e voltam a encaixar-se. Repetidamente. Incessantemente.
Concentrado, no entanto balançando entre duas vontades, balançando como as chamas deste fogo que nos consome... Balançando entre o desejo de encerrar este poder nas tuas mãos, de o dominar, e entregares-te, cederes ao fogo... fogo esse que já te consome. Fogo esse, que já nos consome... a ambos.
E ambos subjugados pelo mesmo fogo... somos fogo, apenas fogo.
Envoltos na bruma, despertamos. Aos poucos, recuperamos os sentidos...
Os nossos corpos estendidos... a cama feita no chão, mesmo em frente à lareira.
O fogo, praticamente extinto. O ar penetrante.
Levanto-me. Envolta no lençol, abro a porta para o terraço. O nevoeiro parece acariciar-me a pele, sorvendo a doçura de cada poro. A bruma envolve a casa, aquela, na praia, sem vizinhos por perto. E hoje, mesmo que os tivéssemos, não existiriam, e mesmo que existissem, não conseguiriam perfurar a muralha que nos envolve - casa, o areal defronte, uma ínfima parte do mar... e nós. Só isso existe. Só isso é nosso. Só isso importa.
Caminho pela areia, em direcção à água. Está frio, mas pareço não me importar. Deslumbro-me com a mística que me rodeia. O meu olhar perde-se por entre o nevoeiro... por entre o que esconde... e o que deixa vislumbrar.
Caminhas pela areia, descalço. Em direcção a mim, sempre em direcção a mim. Envolves-me com o teu abraço quente, e distrais-me... de onde me tinha perdido. Encaminhas-me para dentro.
Na lareira, o fogo parece ganhar vida novamente - intrépido, consome a madeira, parecendo não saber que ao consumi-la, se consome a si próprio também. Assim é o fogo. Louco na ânsia de consumir, e quanto mais louco o desejo, mais depressa se consome.
Volto para a cama improvisada desta noite. Sento-me - virada para o fogo, que parece começar a aquecer. Sobre a mesinha, dois Irish Coffees. O aroma forte, quente e doce, envolvido numa neblina misteriosa, alcança os meus sentidos... e lentamente, começa a penetrar o meu corpo... e a apoderar-se dos meus sentidos. Sinto o vidro quente nas mãos... aproximo o copo da boca... e sorvo o aroma da canela, exótica, misteriosa; deixo-me adoçar pela nata, cremosa e espessa; sinto-me revigorar pelo sabor do café, negro e forte... e finalmente, o malte... que brinca com todos os sabores, que os mistura, que os eleva... e decompõe... tal como o fogo.
Sinto-me entorpecer... sinto-me ceder aos sentidos, que parecem subjugar-me... sinto o teu beijo frio na minha pele. Abro os olhos. Pareço despertar.
Sinto o teu corpo que me envolve. Vejo o mistério da canela no castanho dos teus olhos. Provo a doçura dos teus beijos nas minhas costas. Sinto o estímulo do café no arrepio que me percorre as veias, como as tuas mãos percorrem o meu corpo. Sinto o vigor do malte, e brincas, como brincas... queres pôr-me em combustão lenta... como queres... e pões. Como desejo consumir-me no teu fogo... e que tu... te consumas no meu.