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Blue 258

Blue 258

...

#18 Encontros

28
Nov09

 

Bilhetes. Espectáculo. Música ao vivo. Surpresa.

Espero-te na entrada. Veste-te... linda, como sempre.

 

Visto a saia preta. Blusa... de seda índigo.  Sóbria. Serena. Sapato de tacão alto. Trench coat negro como a noite. Cabelo solto.

 

Uma multidão parece assomar aos meus olhos. E eis que os meus olhos se centram em ti. Alto, moreno... que perdição de homem, penso eu. Os ombros largos envergam o casaco sóbrio, delineando o porte altivo que te define. Homem seguro de si. Detentor do abraço mais forte, mais envolvente... mais inolvidável.

Ofusco-me no brilho dos teus olhos. Meu Deus, sempre brilharam assim?   Prendo-me nesse teu sorriso delicioso de menino. Sorrio também... e é o teu sorriso que conduz os meus passos.

Envolves-me no calor do teu abraço. Acaricias o meu rosto com o teu. E eu, deixo que me envolvas...  e procuro o calor do teu corpo. Refugio-me do frio no interior do teu casaco. Encosto o meu corpo ao teu.  E o calor do teu... revela o frio no meu. Aquela pele fina e sensível, cede, como cede... e mostra a revolta ao frio. Abraçados desta forma, penso  em como me fazes gostar deste tempo...

As portas abrem-se. A multidão, querendo entrar, pressiona-nos ainda mais, um contra o outro. Sinto o calor da tua pele. Sinto o frio do meu corpo que se insinua perante o teu. Mostro-te o sorriso mais doce... ao dizer-te: 

 

 É do frio... não penses noutra coisa.

 

Respondes-me com uma gargalhada doce, jovial... parece divertir-te a minha sinceridade. À medida que a multidão se esforça por entrar, empurram-nos ainda mais... um contra o outro. Cedemos ao beijo mais doce e apaixonado de todos os tempos. Nada mais existe. Nada. Tudo o mais desaparece. A multidão. A cidade. Só nós dois parecemos existir sob o céu estrelado. Até o frio evapora sob o calor que agora nos envolve. Com o meu corpo firmemente pressionado contra o teu, sinto esse mesmo calor que se apodera de ti. Munida de um sorriso repleto de malícia, digo...

 

 Isto... é que já não é do frio...

 

De sorriso rasgado, enlevado pela menina que sabes que não sou... abraças-me ainda mais... e beijas-me... e perdemo-nos nesse beijo intemporal.

 

Lá dentro. Sentados. Em silêncio. No entanto, falando constantemente... incessantemente. Seguras a minha mão esquecida na tua perna. E assim ficamos. E antevejo que em momentos, o teu braço me envolva, e me segure junto de ti. E assim ficamos... até que termine o espectáculo.

 

Caminhamos em direcção à praia. Vamos passear, dizes tu. Está uma noite... perfeita. Expões-me ao frio. Sei o que procuras. Sei o que queres.

Deixas que o vento embata no meu rosto... esperas as faces rosadas pelo frio,  os lábios que escurecem naturalmente. Procuras que a pele fina e sensível do peito ceda aos avanços do frio. E aí, aí, envolves-me, proteges-me no calor do teu corpo. Acalmas o frio com a doçura do teu beijo. Delicias-te com os meus lábios frios... Até os envolveres completamente no calor da tua boca.

Vamos para o carro, digo-te eu agora. Presenteias-me com  esse sorriso de menino, esse olhar apaixonado... que me entontece. Onde estiveste tu?

Vamos para o carro. Não temos tempo... vontade... de chegar a casa. Aquela, na praia, sem vizinhos por perto.

 

 

Slow Dancing In A Burning Room (Acoustic) by John Mayer on Grooveshark

#17 Lavar a alma

28
Nov09

 

 

Final do dia. A caminho de casa, aquela, na praia, sem vizinhos por perto.

Os sentidos que se embriagam com o sal vivo que balança nas ondas: começo a sentir... Começo  a lavar a alma. O som intemporal que se apodera da minha mente, afastando do pensamento os restantes minutos do dia. A minha alma que parece reocupar o corpo, o corpo que lhe pertence, que é seu. Eu, que volto a mim... aos poucos... e, aos poucos, volto a reconquistar o espaço que é meu, que apenas a mim pertence.

 

Depor as armas, despojar-me da armadura. Nada se pode comparar a entrar em casa... e ser eu. Libertar-me das roupas que carrego, permitir que a pele recupere o fôlego. Respirar. Toda ela respira. Toda ela se oferece ao frio que se faz sentir. Toda ela procura... sentir.

 

A água quente do chuveiro percorre agora o meu corpo por inteiro. Olhos fechados. Ouvidos que sucumbem à passagem da água. A respiração entrecortada, dificultada. Rendo-me ao calor da água que percorre o meu corpo. Procuro que me percorra continuamente.  Procuro... lavar a alma.

Permito que o entorpecimento me invada, e se apodere de mim. Inclino a cabeça para trás, e o cabelo molhado balança, brinca... quase provoca. Penso em ti.

 

Procuro aconchegar-me no sofá, junto à lareira acesa. Refugiar-me... junto ao calor. Procuro manter-me  quente. A música parece sucumbir à melancolia. A luz parece abater-se sob o peso do mesmo sentimento. E ali fico, à espera.

 

Chegaste. Com o teu sorriso iluminaste a sala. Prendeste o meu olhar e não mais o soltaste. Envolveste-me num abraço do tamanho do mundo. Falaste. Respondi com  silêncio. Não procuraste resposta. O meu silêncio bastou. 

Senti os teus braços envolverem-me num abraço sem medida, sem tempo. Ficamos assim, os dois, em silêncio... falando. Aos poucos, invade-me o calor do teu abraço, do teu corpo. Combate a melancolia. Afasta-a de mim. 

Encontro o teu olhar.  Abraço o castanho profundo... e mergulho no teu sorriso. Beijas-me a pele. E com cada beijo, mostras que me amas.