O ser humano é como um barco. Começamos pequeninos, e esperamos um dia chegar ao nível daquelas embarcações de grande porte. Aquelas que se aguentam sozinhas, cruzam os mares dias a fio, parecem não temer o desconhecido.
Começamos por navegar ao lado dos pais, embarcações maiores, que nos auxiliam - mas não convém estar sempre perto deles - também eles provocam ondulação, e corremos o risco, de mesmo assim, meter água, embater contra eles - e partir a nossa embarcaçãozinha.
Temos de navegar sozinhos, embora seja difícil, embora seja um risco. Lá vamos embatendo contra uns calhaus, rachamos aqui, ali, tentamos remendar, e seguimos viagem. Mas a verdade, é que metemos água. Tentamos não deixar o barco afundar - só que, por vezes, há um temporal mais forte, e aí, atrapalhamo-nos... vemos tanta água a entrar no barco, que só pensamos que vamos afundar. No meio da aflição, fazemos um esforço - dentro daquilo que as nossas forças nos permitem - e tentamos tirar a água do barco. Passado o aperto, seguimos viagem. Descuramos os arranjos que o barco necessita.
Pelo mar fora, encontramos outras embarcações. Poderíamos facilmente pedir auxílio, e no entanto, não o fazemos. Compreendo que muitas vezes, poderão não ter interesse em nos ajudar - e também porque cargas d'água haveríamos nós de sobrecarregar os outros com os nossos problemas?
Por vezes até, são as outras embarcações que nos encontram em apuros - aproximam-se e perguntam se precisamos de ajuda - e nós o que fazemos? Dizemos que não, que está tudo bem, tudo sob controle. Quando, na verdade, não está. Pergunto-me se duvidamos das suas boas intenções. Podem ser piratas, salteadores, podem vir com a desculpa de ajudar, quando só querem pilhar o pouco que ainda há para ser pilhado. Roubar o pouco que ainda temos, e depois afundar a embarcação para não deixar rasto, ou deixá-la à deriva.
Teremos nós um problema em confiar? Talvez. Nunca se sabe.