Leitura
"Esta expressão «Leitura», há cem anos, sugeria logo a imagem de uma livraria silenciosa, com bustos de Platão e de Séneca, uma ampla poltrona almofadada, uma janela aberta sobre os aromas de um jardim: e neste retiro austero de paz estudiosa, um homem fino, erudito, saboreando linha a linha o seu livro, num recolhimento quase amoroso. A ideia da leitura, hoje, lembra apenas uma turba folheando páginas à pressa, no rumor de uma praça."
Eça de Queirós
Se uma altura houve em que determinadas publicações eram raras (proibidas) e no entanto passadas de mão em mão e lidas ávidamente, hoje (o nosso hoje, em tanto diferente do de Eça) temos (ainda temos) a liberdade de lermos o que bem entendemos e onde bem entendemos. Lemos no comboio, à beira-mar, num jardim, no shopping e em casa. Ainda lemos nas bibliotecas. Ainda lemos que é o mais importante.
O leitor perde-se nas palavras de outrém apenas para encontrar pedacinhos de si próprio, pedacinhos de um caminho, de uma vida. Imaginamos, envolvemo-nos, perdemos a noção das horas e do tempo. O espaço faz-se nosso: meu (teu) e do livro nas minhas (tuas) mão(s).
Exposição "Noites Brancas", de Julião Sarmento - Fundação Serralves, Museu de Arte Contemporânea
Imagens roubadas do Numa de Letra.