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Blue 258

Blue 258

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19
Ago14

 E o que ela queria era alguém que lhe entrançasse o cabelo. À noite, antes de dormir. Que se perdesse nos seus longos cabelos, no perfume do seu amaciador, em carícias. Que lhe entrançasse o amor que sentia por ela. Devagar, devagarinho, enquanto se riam os dois numa cumplicidade só sua. E ele, com todo o seu amor, entrançava-lhe os sonhos, um a um, afastando assim todos os pesadelos que a pudessem porventura atormentar.

 

 

O que ela queria era alguém que a abraçasse sempre que visse o sorriso que lhe fugia dos seus lábios. Era sentir o seu abraço, o abraço que lhe dizia: eu estou aqui para te ajudar e juntos conseguiremos ultrapassar tudo. Eu estou aqui. Sempre ao teu lado. O que ela queria era adormecer nesse abraço do tamanho do mundo. E o que ele queria ela fazê-la feliz. Vê-la adormecer nos seus braços e acordar com o sorriso no rosto dela.

Trains II

16
Ago14

E o que ela queria era o silêncio mecânico dos carris a ditar-lhe o ritmo da leitura. Não queria conversar com um estranho misterioso, com um casal sexagenário simpático, nem se queria desprender em atenções fosse com quem fosse. Queria ficar ali, com o seu livro, numa solidão que fosse só dela.

 

Como o pensamento vagueava amiúde da leitura que segurava nas mãos, resolveu pousar o livro e deslocar-se até ao vagão-restaurante: beberia qualquer coisa e admiraria a paisagem ao som de outra música. Levantou-se, levou a solidão consigo, passou pelo bar, não pediu nada para beber e sentou-se prontamente a admirar a sucessão de verde que corria lá fora enquanto esperava pelo anoitecer e  a música lhe retumbava a alma.

 

 

 

 

 

 

 

    Love hunt me down

I can't stand to be so dead behind the eyes
And feed me, spark me up
A creature in my blood stream chews me up

So I can feel something
So I can feel something

Give me touch
'Cause I've been missing it
I'm dreaming of
Strangers
Kissing me in the night
Just so I
Just so I
Can feel something

You steal me away
With your eyes and with your mouth
And just take me back to a room in your house
And stare at me with the lights off

To feel something In the night When we touch In the night 

'Cause I've been lusting it 

 

 

Era como um Domingo

15
Ago14

Preparou duas sanduíches: pão integral, uma fatia de queijo em cada uma, outra de chouriço, fiambre e tomate. Uma com maionese e a outra com molho béarnaise. Foi buscar uma cerveja fresca, colocou tudo num tabuleiro e foi sentar-se na mesa ao sol. Ainda não tinha terminado a primeira sanduíche e já bebera mais de metade da cerveja. Já na segunda sanduíche e terminada a cerveja, serviu-se da limonada que havia preparado ao inicio da tarde. Terminado o almoço, fez um cigarro - e voltou a pensar no motivo pelo qual o cigarro que se fuma depois de comer sabe tão bem; sem chegar e sem querer chegar a nenhuma conclusão em concreto - sentou-se na espreguiçadeira, voltou a pegar no livro e entregou-se novamente à leitura.

Sentia o corpo quente, seriam cinco da tarde, pensou. Eram seis. Deu mais umas voltas à piscina, e saiu. Bebeu mais um pouco de limonada já quente e fez um cigarro. Reparou que o guarda-sol já não lhe dava sombra, mas parecendo não se importar, sentou-se e continuou a ler. De repente, sem contar, uma rajada de vento inesperada fez baloiçar o guarda-sol; achou por bem levantar-se e fechá-lo. Fosse como fosse, já não lhe dava sombra e fechado ou aberto continuava a ser um guarda-sol. Voltou a sentar-se cruzando as pernas e regressou à leitura.

"É triste estar sozinha", pensou ela enquanto deslizava o olhar pela água, pelas árvores, desaguando no corte das casas que se viam ao fundo. Fechou o livro, que se aproximava perigosamente dos últimos capítulos - sucedia sempre o mesmo, ao chegar à recta final de um romance, obrigava-se a abrandar o passo para poder saborear até ao último momento - e fez mais um cigarro. Não se sentia só, nem se lamentava, não era de todo esse o sentimento quando o pensamento lhe ocorreu. Nem era como se lhe faltasse algo ou alguém. Sentia-se bem sozinha, tranquila ao sol a ler, assim sossegada. Se quisesse, poderia estar noutro lugar, acompanhada, ao invés de estar ali. Mas não foi essa a sua escolha. Preferiu estar sozinha, entregue às suas leituras e a apanhar banhos de sol e de piscina. A verdade é que gostava dos dias assim, de ter a cama só para si, de dormir e acordar sozinha. Não percebia, no entanto, se lhe faltava alguém que apreciasse o mesmo que ela ou se lhe faltava alguém que a apreciasse  a ela ao ponto partilhar uma tarde assim passada. De resto, sentia-se bem consigo mesmo, compreendia a evolução que se procedera nela para chegar àquele momento em que não precisamos de mais ninguém para nos sentirmos bem. 

Colocava sempre a espreguiçadeira naquele sitio, pois sabia que era onde morreriam os últimos raios de sol, mas as sombras que aos poucos se vinham apoderando do jardim, e enegreciam agora as águas azuis, ameaçaram assombrar-lhe o coração. Decidiu dar a tarde por terminada, e ir sentar-se ao computador para escrever. Pegou no tabuleiro do almoço, levou-o para a cozinha, deixou-o em cima da banca para mais tarde lavar a loiça e arrumar. A caminho da cozinha viu de relance os girassóis no quintal e lembrou-se de apanhar alguns para compor uma jarra. Apareceram então os três gatos que tinham estado toda a tarde desaparecidos - à sombra das folhas verdes no fresco do quintal. Fez um mimo no siamês e depois no seu Koi. Adorava aquele gato mas ainda se lembrava recorrentemente da sua Moggi, que poderia ou não estar com outras pessoas, e mesmo que estivesse, o seu nome não seria o mesmo, por isso seria uma gata a viver num mundo paralelo e por isso não seria a sua. "A Moggi já não existe". Achou que a págians tantas, ler tantos livros de Murakami com os seus mundos paralelos lhe começavam a toldar o raciocínio e optou por esquecer o assunto.

"Os girassóis alegram qualquer casa, e uma sala precisa de vida." Apanhou sete - o seu número da sorte. não que com isso tenha ganho alguma vez ao jogo - encheu uma jarra com água, aprumou-os e colocou-os na mesa da sala. Satisfeita, subiu e sentou-se em frente ao computador. Eram 19 horas em ponto. Abriu o dashboard dos blogues do Sapo e procurou no seu backup de música antigo o que queria ouvir. Acabou por escolher Grabiella Cilmi, vá-se lá saber por que razão mas depressa se arrependeu: soava-lhe demasiado a dance comercial e estava muito alto talvez por ter estado toda a tarde rendida ao silêncio da água, dos pardejos e de um carro ou outro que ocasionalmente passava na rua em frente.  Baixou o volume e sentiu-se muito melhor. Mas depressa se lembrou do que lhe apetecia ouvir: PJ Harvey. Algo consistente e bom, a atirar para o rockeiro

Ao olhar pela janela e como que a recordar o mundo lá fora, lembrou-se de fazer uma caminhada até à praia e assim terminar em grande aquela tarde de Domingo. Afinal, era como um Domingo.

Oh pa oh pa oh pa

14
Ago14

Eu sei que não devia, mas não consegui resistir...

 

 

 

Chegou hoje e eu abri agora. Confesso que sou um caso perdido. Mas eu juro que só encomendei porque eram apenas 5 euros, vá, 6 (4.99 mais 1 euro e pico para o envio) e por me ter apercebido de que afinal ainda não tinha este. Como faria quando me desse aquela vontade de reler? O que seria de mim quando fosse à estante, e percebesse que afinal não o tinha? Seria triste. E o mundo já tem tristeza de sobra. Certo? 

Banda sonora dos últimos dias de chuva

13
Ago14

«And we laughed for a moment, and I said, "I never knew".

"That you liked Pina Coladas, and getting caught in the rain.
And the feel of the ocean, and the taste of champagne.
If you like making love at midnight, in the dunes of the cape.
You're the love that I've looked for, come with me, and escape."»


 

 

 

The Secret Life of Walter Mitty OST. Banda sonora perfeita.

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