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Blue 258

Blue 258

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A Daniela.

31
Dez19

Esta miúda, a quem eu chamo de miúda, de minha menina dos abraços, mas que é mulher e um dos seres mais extraordinários com quem eu tive o prazer de me cruzar nesta vida. Este ser de luz que cruzou o meu caminho para me lembrar o que importa, para eu nunca perder o meu norte, para me guiar quando me desvio da rota em dias de tempestade e para me sorrir, sempre, nos dias de sol. Em qualquer dia. 

Esta miúda, a minha miúda, a minha menina dos abraços, esta mulher que é um assombro de mulher e que escreve. E como escreve! E diz tudo. Tudo o que eu quero dizer (e por vezes ainda sem eu o saber), tudo o que eu podia dizer, tudo o que eu sinto, tudo o que eu sei e ela me lembra. Assim, desta forma. Gentil, suave, discreta. E uma explosão cósmica quando deixas que te tatue o coração. Está escrito nas estrelas, Daniela. Para sempre. Tanto.

 

Os anos vão passando. E, quando olhas bem para dentro de ti, quando percorres cada pedaço do teu coração, onde guardas (só) o que importa, percebes que há coisas que tu vais aprendendo. Os anos vão passando e tu aprendes que, no meio deste mundo que te exige tanto e te tira tanta vida, afinal há muito poucas coisas que importam, há muito poucas coisas que tu precisas. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é morar em cada abraço. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é abraçar cada mão dada. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é entregar-te em cada olhar. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é sentir cada sorriso. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é curar em cada beijo. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é amar as tuas pessoas. As que ficam. As que ficam sempre. Para sempre. (E aprendes, também, que afinal as tuas pessoas não são tantas assim.) Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é tatuar corações com a tua vida. E deixar que outras vidas te tatuem o coração. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é agradecer cada milagre. E encontrar força para cada tempestade. Aprendes que afinal o que importa, o que tu precisas, é ser e viver, sempre, com o coração. É ser e viver, sempre, com amor. Os anos vão passando e tu aprendes que, no meio deste mundo que te exige tanto e te tira tanta vida, afinal a única coisa que importa, a única coisa que tu precisas, é o amor. Porque aprendes que afinal é o amor que te devolve a vida. Aprendes que afinal é o amor que te salva de tudo. Todos os dias. Para sempre.

 

Do amor. Sempre. Tanto.

 

 

E sabes o que é extraordinário, Daniela? A luz que se propaga, que se estende, de ti para mim, percebo agora que não fica por aqui. Não acaba em mim, não. Estende-se àqueles que eu ilumino e que tu, sem saberes, ajudas a iluminar também. E se me dizes que eu já tinha essa luz em mim, eu aceito, mas digo-te que hoje, hoje, a minha luz é mais forte porque dela faz também parte a tua. Tatuaste o meu coração. Tanto. 

 

 

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17
Dez19

e hoje o sol brilha. vês como é verdade o que dizem? depois da tempestade vem sempre a bonança. basta acreditar. basta não perder as forças e lutar. basta saber esperar. escolher com cuidado as batalhas. aprender o timing. saber sincronizar as tropas e esperar pelos reforços. compreender que uma batalha perdida nunca será o suficiente para te fazer baixar os braços. basta aceitar que dar um passo atrás e repensar o próximo movimento te pode ajudar a vencer a guerra. basta.

 

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12
Dez19

sabes, tu podes ter-te arrastado do fundo do poço. esfolado, dorido, completamente espancado, mas conseguiste sair em direcção à luz. estás cá fora. tentas abrir os olhos devagarinho porque depois de tanto tempo imerso na escuridão mais profunda a luz fere-te os olhos. inspiras profundamente o ar fresco da superfície. doem-te os pulmões. tens provavelmente uma costela partida. não faz mal. já estás cá fora.

abres os olhos devagarinho: o verde da erva molhada, o azul do céu, a transparência das águas cristalinas. o sol que dá vida. vais-te arrastando e sorves aos poucos. bebes cada instante como se fosse o último. e sorris. finalmente, voltas a sorrir.

tentas acelerar o passo. a custo mas vais. não tarda nada estás a correr. e como corres. lavas a alma despida na água. o mundo é teu. pensas tu. arregaças as mangas. estás pronto para a luta. venham eles! mas não jogam limpo. ninguém parece jogar limpo neste mundo sujo. sem dar por ela, e depois de uma rasteira que nem viste chegar, acabaste de cair em mais um poço negro. não pode ser, dizes tu. deve ser engano.

mais uma vez a levar porrada quando já estás no chão. cobardia. enfrenta-me cara a cara e vemos quem cai por terra! cobardes! gritas tu do fundo do poço. podem tirar-te tudo. mas que nunca te tirem a voz. respira. isso. inspira. expira. mais uma vez. dói-te tudo, eu sei. o corpo dorido, a alma espancada. inspira comigo. expira. e vamos lá de novo. dá-me a tua mão. agora é sempre a subir.

 

 

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08
Dez19

Já não é novidade por aqui um post com palavras que poderiam ter sido escritas por mim. Novidade talvez seja deparar-me com um post de 2015 da Daniela e sentir parte dele tão actual. Porque é. Porque há coisas que são mesmo intemporais. Tanto.

aproximas-te de mim devagar, como quem tem medo que eu possa fugir, e abraças-me a alma na esperança de me entrares no coração. admiro a tua forma ingénua de sentires que me tens e me conheces inteira. mas o que tu não sabes é que, mesmo que a minha alma se deixe abraçar por ti e o meu coração te deixe entrar, há coisas minhas que tu não conheces. há coisas que tu não sabes. não sabes que antes de ti já alguém me abraçou a alma, morou no meu coração e me roubou pedaços dele. não sabes que eu nunca recuperei esses pedaços e que nunca os vou recuperar. 

pedaços que nunca vou recuperar. pedaços que me roubaram ou que eu dei de livre vontade. que eu dei, que tu dás,  quando dás mesmo sem saber o que estás a dar. que eu eu dei, que tu dás, quando dás sem pensar sequer que tudo tem um fim. porque na altura, naquele preciso momento, não consegues pensar em mais nada a não ser naquele começo. e dás. dás de ti. pedaços.

pedaços que nunca mais voltaram ao sítio, pedaços que nunca mais encaixariam no sitio mesmo que tos devolvessem. pedaços que mesmo que voltassem já não sentirias como teus. porque tu mudaste. porque tu mudas. quando dás de ti. quando te roubam pedacinhos. e quando te roubam pedacinhos destes, tão importantes, tão essenciais, segues o teu caminho com a sensação de que foste roubada(o). vives os dias com a sensação de que te falta algo. sentes o vazio. o frio que aos poucos se apodera de ti. e, se não tens cuidado, esse vazio toma conta de ti. preenche-te e rouba-te ainda mais pedaços. perdes um pedacinho por cada vez em que pensas no que não foi. perdes um pedacinho novo enquanto usas os teus dias para reviver o que já foi. e vais-te perdendo aos poucos. pedacinho a pedacinho.

descobres então que consegues preencher os pedacinhos que te faltam. que no final de contas, tu és construção constante. que afinal, derrubarem-te muros e paredes resulta naquilo que tu és hoje. 

 

 

Dos castelos. Com muralhas, fosso e crocodilos.

05
Dez19

[Voltei a pensar nisto (e sim, em como devo direitos de autor ;)]

 

A verdade é que erguemos muralhas. Para nos protegermos. Nunca é para proteger os outros. É mesmo para não deixar ninguém entrar. Vai daí, as muralhas são altas, não há quase forma de as escalar e primeiro, primeiro, ainda há que descobrir forma de passar pelo fosso. A ponte levadiça, essa, está sempre fechada. Sempre. Porque em tempos idos, quando ainda caíamos no erro de a baixar para deixar alguém entrar,  as histórias não tiveram um final assim tão feliz.

Passando pelo fosso e começando a árdua escalada, há sempre o perigo de cair no meio dos crocodilos e ser devorado. Não nos esqueçamos das torres e das ameias que erguemos para nos defendermos. E o facto de estarmos sempre de vigia. Sempre atentos. E quando nos aparece alguém, mesmo que durante a escalada nos grite venho em paz! , duvidamos sempre. Será que ouvi o que me pareceu ouvir? E por entre as setas que já começamos a disparar, lá nos atrevemos a indagar: diga lá, não percebi o que disse! Mas já não obtemos resposta. 

Numa era em que já não há contos de fadas, mesmo havendo alguém disposto a tentar tal feito, duvidamos. Duvidamos de nós. Duvidamos de quem procura entrar. Sabemos que podem perceber de paredes; sabemos que desconhecem a extensão da nossa fortificação; sabemos que  só o tempo lhes poderia mostrar mais. Sabemos que só tentando, persistindo e voltando de novo à carga é que poderiam suceder.

Para isso teriam que montar acampamento; para estudar o terreno, elaborar possíveis planos de ataque, construir mecanismos de cerco. Duvidamos que tenham a paciência necessária. Duvidamos que tenham a resiliência para conseguir terminar a escalada. Duvidamos. Duvidamos sempre e cuspimos fogo.

 

 

 

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02
Dez19

E quando te sinto assim, tempestade nos olhos, tornado a dilacerar-te a alma, só penso em dar-te colo. Em abraçar-te neste abraço que é porto de abrigo seguro. Neste abraço que é casa. Que é tudo. Que é tanto.

Abraço-te sem dizer nada, seguro-te no meio dessa tempestade e não abro mão de ti. E deixa que a chuva caia, deixa que os relâmpagos risquem os céus e que os trovões ecoem na noite. Porque nada mais importa. Nada. 

Abraça-me. Com todas as tuas forças. Sem pensar. E a pouco e pouco todas as preocupações desaparecem. Abraça-me. Ainda mais forte. Mais.

Olha agora: uma por uma, riscam os céus como estrelas cadentes. Vê como caem inertes na areia e repara que até o mar brinca com elas.

As tempestades vêm e vão. Um abraço destes é para sempre.