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Dei por mim a querer enviar-te uma mensagem. Queria perguntar-te como estava a ser o teu dia. O coração dizia sim, a cabeça dizia não. Pelo menos lembra-o do mais importante, argumentava o coração. Não, insistia a cabeça. Queres escrever, escreve no blog e sossega.
You are amazing.
And I still miss you.
*retirado daqui
Em que preciso de colo. Daquele colo. Hoje é um daqueles dias, um dia raro, em que preciso desse colo. E não é qualquer colo. Não é o colo de qualquer um. Porque este tipo de colo é especial. Nem todos sabem o que é. Nem todos sabem dar. Nem todos percebem. Nem todos entendem.
Aquele colo que é abraço. Aquele colo que é porto de abrigo seguro. Porque há dias assim. Há dias em que eu sou só pedacinhos. Há dias em que se notam todas as fissuras, há dias em que eu deixo que se veja como me quebraram e eu me voltei a colar. Há dias em que eu pareço frágil, em que pode parecer que se me tocarem ou se me mexer demasiado rápido, que os pedacinhos vão começar a cair. Um por um. Mas não. Não vão cair. E eu só preciso de me afundar nesse colo, no teu colo, e que me abraces. Que me deixes ser pedacinhos aos teus olhos. Que deslizes o dedo pelas fissuras como que a contar as vezes que me colei. Que me abraces como que a dizer:
I got you. Every little piece of you. I got you.
When the silence isn't quiet
And it feels like it's getting hard to breathe
And I know you feel like dying
But I promise we'll take the world to its feet
And move mountains
We'll take it to its feet
And move mountains
«Vou buscar-te ao fim da tarde,
porque a noite só escurece contigo ao
meu lado, porque a noite aprende por ti
o caminho aberto das estrelas
Vou buscar-te ao fim da tarde,
e verás como preparei a casa, como
escolhi a música, como, enfim, espalhei
os objectos mais impressionados contigo,
os que ganharam vida por se interporem
na espessura estreita que vai do meu
ao teu coração
e não mais te devolvo, correndo todos os
riscos de não amanhecer nunca
numa loucura propositada por ti
não mais te devolvo,
ocuparás o mundo debaixo e sobre mim,
e não haverá mais mundo sem que seja assim»
valter hugo mãe
*imagem retirada da net
Sou feita de milhões de pedacinhos. Caminho nas ruas, cruzo-me com as outras pessoas, páro para conversar com quem conheço e ninguém percebe. Sou um vitral. Milhões de pedacinhos colados, perfeitamente encaixados no lugar, sem falhas, sem excesso ou falta de cola. Milhões de pedacinhos colados de volta ao seu lugar por mim. Afinal, só eu os poderia colar.
Há momentos em que dou por mim a parar. Fico muito quieta. E é aí que consigo ver alguns dos pedacinhos a separarem-se do vitral. Parecem voar em câmara lenta, como se pairassem a escassos centímetros de mim. Quero mover a mão, apanha-los no ar, coloca-los de volta no seu lugar mas não me consigo mover. O meu corpo não obedece, os músculos não reagem, sinto-me completamente paralisada.
Não, não, não. Não posso perder estes pedacinhos! Fazem parte de mim. Eu sou cada um destes pedacinhos. Mesmo que colados ao longo dos anos. Mesmo que tenha deixado alguns pelo caminho, fui aprendendo que faz parte dar pedacinhos meus àqueles que cruzam a minha vida - que escolho dar e que dou mesmo sem escolher; fui aprendendo a juntar os pedacinhos novos que por vezes me dão - muitas vezes sem saberem também mas outras porque escolhem fazer a diferença - e ajudam a fazer de mim a pessoa que sou hoje. Estes pedacinhos são meus! Têm uma história. A minha história! Não me posso permitir perder mais. Mas o corpo não me obedece. Sou um vitral prestes a estilhaçar-se no chão frio de pedra.
E é aí que me lembro: respira. E eu inspiro. E os pedacinhos iniciam o percurso de volta ao meu corpo. Expiro. E os pedacinhos que há momentos pairavam no ar, voltam a encaixar-se no seu devido lugar. Respiro. E sou um todo de novo. Milhões de pedacinhos colados. Sou um vitral.