Eles dizem que lhes basta. E eu que sei que não, e mesmo sabendo que não, deixei. Deixei que me amasse à sua maneira, com aquilo que tinha para me oferecer. E depois habituam-te e tu habituas-te àquela pessoa, àquela sinceridade, àquele amor. E tu habituas-te. Habituas-te porque também queres acreditar na integridade da pessoa. Também queres acreditar que, quem sabe, desta vez possa ser diferente. Mas em algum momento, as palavras deixam de ser aquelas a que te habituaram. E é aí. E é num momento. Um simples momento.
Bate-te um medo, uma incompreensão, uma incredulidade. Sentes o peito apertado, a latejar, e o coração começa a bater acelerado. Precisas de um momento para te recompor. E depois pensas: é só mais um episódio triste da vida, é só mais um dia.
Só que entretanto, as palavras começam um engarrafamento na garganta. E quanto mais pensas, mais palavras por dizer se acumulam até estarem todas entaladas cá dentro. E tu precisavas de falar mas não te deixam falar. E as horas passam, as palavras ali a envenenar-me por dentro, e os minutos a contar. Lentamente vais perceber que não, que não te vão deixar falar. E é das piores coisas que te podem fazer. Isso e deixar vir a noite e deixar-me ir dormir sem me permitir deitar cá para fora o que me corrói no momento. E é como veneno. É como veneno.