Sushi, a D. e eu
Eu e a D. somos muito diferentes. Muito mesmo. Como a água do vinho. A D. é uma maluca, não tem limites, goza a vida com tudo o que a vida tem para gozar. Eu sou controlada. Já lhe disse várias vezes que ela precisava de ser um bocadinho como eu, mas só um bocadinho, senão ficava chata demais. E que eu, eu, precisava de ser um bocadinho como ela, mas só um bocadinho também. E é verdade. No entanto, estas coisas não se adquirem como que por osmose, e cada um é como é, não há nada a fazer quanto a isso.
Pelo menos, e até agora, as nossas saídas resultavam em altas gargalhadas, em conversas animadíssimas e horas de boa disposição. Das últimas duas vezes que saí com a D., não vim assim muito bem disposta. Não gosto de estar com alguém que me deixe assim, em baixo, desanimada, e é o que tem acontecido. Disse a mim mesma que se à terceira vez acontecesse o mesmo, teria de tomar uma resolução. E aconteceu.
Sushi, jantar, eu e a D. - tinha tudo para ser um jantar bem divertido, mas não foi. Para ser sincera, ainda só estava a salada na mesa, e já eu queria fugir. Mas aguentei, claro. Mal, mas aguentei. A meio do jantar, lembrei-me do M., e dos nossos jantares. Digo-vos, aquilo é que eram jantares. Só os dois, fazíamos a festa, e que festa! Trocava naquele momento a D. pelo M., oh se trocava. Sem dúvida nenhuma. E sei que bastavam umas palavras, e ele viria a correr. E isso também me deixou a pensar.
Pareço ter uma formação que a D. não tem. Custa-me dizer que é isso que não quero. Quero pessoas como eu, quero pessoas que sabem ainda mais do que eu. Aquele saber que não vem dos livros, nem dos cursos, aquele saber que a pessoa adquire e assimila a cada dia, a cada experiência. Aquele saber que é próprio de quem quer saber. Aquele saber de quem vê o mundo com olhos de ver. Quero rodear-me de pessoas que me façam imaginar, ver, sentir. Quero pessoas que me façam querer voar. Fica provado que me rodeio das pessoas erradas.