Tonalidade embriagante
Tonalidade embriagante esta, que ao cair da noite abraçava Viana do Castelo. Indescritível. Impossível fotografar - a máquina parecia não ser capaz de captar a subtileza dos tons. À falta de melhor, fica aqui o meu testemunho.
De casa, viam-se os pinheiros corados de vermelho - como se de fogo se tratasse. E era fogo - fogo vindo do sol, vindo da praia, do mar, da linha do horizonte, onde o sol se parecia perder.
A caminho da praia, viam-se os pinheiros, vestidos de tons escuros, misteriosos, sombrios, exalando sobriedade. Mesmo por cima, rasando as cristas que sempre apontam o céu, tons arroxeados, incríveis, sublimes, extraordinários.
Beira-mar: fogo. Explosão de fogo. Intenso de uma forma que até atordoa. Parecia pairar à superfície do mar.
Porções de areia sublimadas por aquele tom vermelho de fogo que inicialmente concentrou as atenções. Areia e água polvilhadas por tons escuros de laranja.
Com o olhar alcanço a cidade.
Santa Luzia, em cima, com a noite que entretanto se abateu sobre ela.
A cidade com as suas luzes, brilhantes, como se engalanada estivesse para a festa.
O pontão a direccionar-nos para o mar, para o horizonte. Para o infinito.
Sempre lá, mas hoje diferente, transformado de uma qualquer forma transcendental que não nos permite saber o autor.
Acesso só à obra: o mar carregado desses tons azuis e arroxeados, hipnotizantes, esotéricos, intrinsecamente cativantes, que se estendem como névoa mística à cidade.
Ao voltar para casa, acompanha-me uma atmosfera em tons azuis e arroxeados escurecidos pela noite. Diferente dos demais dias. Sem dúvida.