Girl talk
Pela quarta ou quinta vez consecutiva ao telefone, e mesmo depois de eu ter passado em casa dela ao final do dia, e de já se ter falado no assunto. Se eu não nos conhecesse tão bem...
— Que fazes? Estás aborrecida?
— Eu? Não, estou aqui a ouvir música (era John Mayer).
— Ah... pensei que fosses sair.
— Hum, não, por acaso não. Estou cansada. Também estou doente e assim... Mas não vou sair porque muito sinceramente não tenho disposição. Se a tivesse, pegava no carro e saía.
— É como eu. Também não vou sair, estou de todo com esta alergia, e também estou cansada...
— Então fazes bem em descansar. Vá, vai lá. Eu vou pôr a música mais alto e deixar-me estar por aqui...
— Está bem, falamos depois.
— Pronto, falamos depois.
— Beijinho.
— Beijinhos.
(nem dois minutos volvidos - que dois minutos, dois segundos, toca o telemóvel mais uma vez)
— Diz...
— Oh, vamos sair! Não podemos ficar em casa feitas velhas! E é sexta-feira à noite! Logo numa sexta-feira!
(eu a querer dizer logo que sim, mas a pensar vá-se lá saber em quê, e ela insiste)
— Vamos Raquelinha, vamos beber um copo, um, só um, e vimos cedo.
— Ok, vamos então. Mas não é para demorar muito.
E eu adoro estas alturas em que se diz: é só um copo, vimos cedo, não vamos demorar. Adoro. Porque geralmente, acaba por não ser um só copo, as horas parecem correr, nós parecemos não nos importar, e o cedo faz-se um não tão cedo assim, e o demorar pouco transforma-se naquele, ficava mais, a música está boa, mas já estou no ponto para me atirar para a cama e adormecer em menos de 30 segundos.