Do que tiver de ser, será
Eu nunca acreditei muito nisto. Ou melhor, nunca acreditei mesmo nada nisto. Sempre achei, e continuo a achar, que somos nós que trilhamos o nosso caminho, que somos nós os detentores do poder de decisão, das escolhas que fazemos para nós. O tempo, bem, o tempo, limita-se a marcar o compasso. Quando me diziam: aconteceu porque tinha de acontecer, retaliava ferozmente que não, não tinha nada de acontecer.
Revolta-me a ideia do destino estar escrito e de tudo se desenrolar de acordo como estava previsto. Seríamos marionetas nas mãos de um brincalhão qualquer. E a vida, um palco, onde nos decidem o que vestir, o que falar, o que sentir e os passos a dar.
Acredito que todos os dias se nos apresentam escolhas, e dependendo dessa escolha, enveredamos por determinado caminho. Todos temos o nosso tempo. Um tempo necessário para percebermos o que queremos, para nos rendermos às evidências, para reunirmos forças para lutar pelo que queremos. Há uma diferença entre aquilo que queremos e aquilo que precisamos, há. Mas a vida é feita de tentativas, aquele crash, burn, get up again. De aprendizagens. Não dizem que aprendemos até morrer?
Se nos arrependermos, ou concluirmos que não, não era aquilo que queríamos, temos todo o direito de voltar atrás. E enveredar por um novo caminho. Mas tudo depende de nós. Lá está, as escolhas que fazemos dependem de nós. Se é inevitável que determinado caminho nos leve ao nosso objectivo, ou não, isso é que já não depende de nós. Não depende só de nós. Mas as nossas escolhas, sim. E é a nossa vontade, provida de toda a nossa força que nos leva a tomar o caminho mais difícil, quando sentimos ser o certo. Apesar de todas as nossas (in)certezas.
Uma amiga minha, amiga de longa data, bem mais velha, lutadora, com experiência de vida, sempre me disse: o que tiver de ser, será. Já mo havia dito há mais de dez anos atrás, e recentemente, quis o destino que mo voltasse a repetir vezes sem conta. Tinha-me dito: deixa as coisas rolarem. O que tiver de ser, será. Aliviou-me da ansiedade que tinha tomado conta de mim, da necessidade urgente que eu sentia em pôr o preto no branco. Tirou-me literalmente um peso das costas. Da alma. Discorreram os dias, e a situação, sem eu o procurar, sem eu me desgastar inutilmente, proporcionou-se. E o que tinha de ser, foi.
Continuo a achar que é pelas nossas mãos que as coisas se fazem. Que são as nossas escolhas que determinam o passo seguinte a dar. O caminho a seguir. Mas a verdade é que há coisas que são inevitáveis. E a essas - o que tiver de ser, será - aplica-se sem sombra de dúvida.