Da noite de sexta
Zero horas de sono. Zero. Dezasseis horas juntos. Dezasseis. Falamos de como não é normal andarmos a sair tanto juntos, andarmos a passar tantas horas juntos. Falamos dos sinais. Dos sinais que se contradiziam. Dos sinais de ambos. Das dúvidas de ambos. Das incertezas daquilo que sentíamos. Vi o amanhecer contigo nos meus braços. Disseste-me: aí tens o teu amanhecer.
Já o sol ia alto quando regressámos a casa. E na incerteza da certeza voltámos a casa. E da incerteza fez-se a certeza. De não ser. De não sermos. E a estupidez toda está no que sente. Porque se sente. De parte a parte. Quanto a isso não há volta a dar. Acredita, não há. Podemos esconder, podemos fingir, mas não há volta a dar quando se sente.
Se eu quis ceder? Quis. E só isso diz tanto. Tanto. Se eu cedi? Não. Não cedi. Porquê? Porque faz parte de mim. Faz parte de quem eu sou. E eu sou assim. E por mais que eu tente, não há volta a dar. Eu funciono assim. Devagarinho. Tão devagarinho. E e se há alturas em que me arrependo de ser assim, outras há em que percebo porque é bom ser assim. De resto, é como eu sou. Eu sou assim. E se é assim que eu sou, não há nada a fazer. Tenho de ser. Eu.