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Blue 258

Blue 258

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12
Dez19

sabes, tu podes ter-te arrastado do fundo do poço. esfolado, dorido, completamente espancado, mas conseguiste sair em direcção à luz. estás cá fora. tentas abrir os olhos devagarinho porque depois de tanto tempo imerso na escuridão mais profunda a luz fere-te os olhos. inspiras profundamente o ar fresco da superfície. doem-te os pulmões. tens provavelmente uma costela partida. não faz mal. já estás cá fora.

abres os olhos devagarinho: o verde da erva molhada, o azul do céu, a transparência das águas cristalinas. o sol que dá vida. vais-te arrastando e sorves aos poucos. bebes cada instante como se fosse o último. e sorris. finalmente, voltas a sorrir.

tentas acelerar o passo. a custo mas vais. não tarda nada estás a correr. e como corres. lavas a alma despida na água. o mundo é teu. pensas tu. arregaças as mangas. estás pronto para a luta. venham eles! mas não jogam limpo. ninguém parece jogar limpo neste mundo sujo. sem dar por ela, e depois de uma rasteira que nem viste chegar, acabaste de cair em mais um poço negro. não pode ser, dizes tu. deve ser engano.

mais uma vez a levar porrada quando já estás no chão. cobardia. enfrenta-me cara a cara e vemos quem cai por terra! cobardes! gritas tu do fundo do poço. podem tirar-te tudo. mas que nunca te tirem a voz. respira. isso. inspira. expira. mais uma vez. dói-te tudo, eu sei. o corpo dorido, a alma espancada. inspira comigo. expira. e vamos lá de novo. dá-me a tua mão. agora é sempre a subir.