Relações - Prazo de validade
Pergunto-me se as relações terão validade - se chega a data em que a relação deixa de funcionar, porque é assim mesmo - terá efectivamente um prazo de validade, e findo esse prazo, obrigatoriamente a relação estará no fim.
Ou, será que somos nós que temos esse prazo - seremos nós a ter um prazo para cada pessoa que entra na nossa vida? Será que quando se perde o interesse, ou se sente que ali já não há nada, é porque o prazo atingiu a data limite?
Por vezes, tentamos, mesmo após o prazo terminado, prolongar a sua duração - o que, apesar dos esforços, se revela infrutífero. Teria nesse caso a relação chegado inevitavelmente ao fim? Ou fomos nós que deixamos de querer, que deixamos de nos preocupar, que deixamos esmorecer o sentimento?
Sim, porque numa relação, seja ela de amor ou amizade - a amizade nada mais é do que uma variante do amor - tem de haver entrega, partilha, esforço conjunto.
Tudo bem que, com o tempo, é mais do que natural que a relação se altere - também nós mudamos, certo?
O que inevitavelmente, me leva à questão do "para sempre". Quando o dizemos - isto quem diz, eu já não digo estas coisas - não duvido que seja sentido, naquele momento. Mas os momentos sucedem-se uns aos outros, a Terra não pára de girar. Nunca.
E o que acontece a esses "para sempre"? Se quando se deixa de querer, esse para sempre se reduz a nada, se desfaz em pó, quando outrora se erguia tipo montanha orgulhosa insuflada pelo sentimento?
Sentimento. Tudo se reduz ao sentimento. Se há sentimento, há essas promessas de "para sempre", há esses "amo-te acima de tudo" esses "és o meu mundo". Se o sentimento não estiver presente - não há nada para se dizer.
Mas de que valem estas promessas - se nada são mais do que ar? Sim, ar. Porque se comparáveis à força brutal de um géiser quando proferidas, tão facilmente se esvanecem, e desaparecem sem deixar rasto.
Acabamos por duvidar de nós próprios - terão elas existido?
De que é que isso interessa - se não forem cumpridas, perdem todo o valor - tal e qual como as notas e moedas fora de circulação - deixam de ter um valor efectivo - passam a ter valor apenas para os coleccionadores, e para quem é dado a sentimentalismos. Sim, quem também gosta de guardar as coisas, mesmo quando já não têm utilidade nenhuma.
É o que nós fazemos em relação ao amor. Sem tirar nem pôr. E o engraçado é que funciona da mesma forma para homens e mulheres. Quando queremos, agarramo-nos, lutamos, não baixamos os braços.
Há uma das partes que se agarra, que tenta fazer com que funcione, pelos dois - e há uma parte que quer largar. Quem é deixado para trás, sofre sempre. Quem parte, geralmente tem interesses novos - daí que não deva perder muito tempo a pensar no que ficou para trás.
Mudamos. Com o bom e com o mau. Mudamos. De qualquer forma. De alguma forma.
O problema é quando um sente e o outro já não sente. Um deixa, e o outro é deixado. O ideal seria os dois deixarem simultaneamente - na mesma e exacta medida.
Quanto a mim, os anos mostraram-me que o ideal numa relação seria nunca se perguntar: o que sentes por mim? Porque, convenhamos, se se tem de perguntar, das duas uma, ou não se está muito atento, ou já se sabe bem... que a resposta poderá ser a que não queremos.
Acabo a pensar que o ideal poderá passar por: aproveita o que te dou, usufrui da minha companhia, ama-me sempre que puderes... mas não me perguntes nada. Ama-me. Apenas isso. Ama-me.