Leva-me a jantar. Quero usar o salto mais alto, cabelo solto, brilho nos lábios e aquele vestido comprido. Quero ver-te com aquele fato às riscas, aquele, o meu preferido, e que te assenta tão bem.
À mesa, saboreamos a presença um do outro. Deliciamo-nos com o sorriso, temperamo-nos com o brilho dos olhos, mimamo-nos com o nosso jeito doce. Deixamo-nos inebriar pelo mel. Aquele mel que nos cativou.
Falamos a cada gesto, atropelamos as palavras. Tu sabes que a minhas mãos também falam. Tu sabes. E eu, adoro ver-te perdido e atrapalhado. Tu, logo tu. Aproximamo-nos ainda mais. Procuramos alhear-nos do burburinho que nos impede de beber as palavras um do outro. E cada silêncio, que diz tanto. E o olhar que fala sem cessar. Degustamos palavras. Saboreamos mel.
Tira-me para dançar. Abraçados. Rostos colados. O teu sorriso embevecido e o meu apaixonado. Tira-me para dançar. Faz-me rodopiar como nos filmes e segura-me nos teus braços. Nada importam esses que nos olham. Querem estar no nosso lugar. Querem sentir o mesmo. E não sabem como.
Embala-me ao som da música e deixa-me colocar a cabeça naquele sítio, aquele, aquele... tu sabes. Fecho os olhos e esqueço tudo o resto. As bocas mecânicas, os olhares irónicos, os corações vazios. O riso sonoro, sem sal, sem sabor. O ruído dos talheres, dos copos, do arrastar das cadeiras, das conversas supérfluas.
Esqueço tudo. Tudo. Nada mais existe. Apenas tu e eu... e aquele abraço. Com dois dedos abaixo do meu queixo, ergues suavemente o meu rosto para ti. Pareces querer despertar-me. E ali continuo, num sonho, de olhos fechados. Beijas-me ao de leve nos lábios. Abro os olhos. Apercebo os teus que já não indagam os meus. Já me conhecem bem, sabem-me perdida neste sentimento.
Beijas-me novamente. As nossas bocas quentes envolvem-se numa doçura desenvolta. E nós perdemos o chão. O espaço. O tempo. Entregamo-nos. Perdidos, encontramo-nos num beijo. Naquele beijo. E agora sim, por momentos, também tu esqueces o resto do mundo. E para quê pensar? Nada mais importa... deixemos o mundo lá fora. Amor, abraça-me, beija-me uma vez mais. Vamos esquecer o mundo... nos braços um do outro.
Estou aqui que nem posso. E está na hora de culpar alguém. E a culpa é toda do N., namorado da T. - gajo impecável, encarei logo com ele. Mas a verdade é que a culpa é dele. Muito simpático, atencioso, e muito cavalheiro: sempre que via o meu copo vazio, tratava de o encher.
Espero por ti, encostada ao carro. Pequenas gotas de chuva acariciam-me o rosto... e pareço não me importar. Parecem querer beber o mel que exala da minha pele. Divertem-me, enquanto espero. Penso que também elas sabem... dos momentos de doçura que se prevêem.
Quero ver-te chegar. Pretendo dar-te apenas uns instantes... para desligares o motor, e abrires a porta. Pretendo lançar-me nos teus braços... nesse preciso momento. Quero deliciar-me com o mel dos teus olhos castanhos. Quero que tu... te percas nos meus. Quero colar os meus lábios aos teus... e embriagar-me com a doçura da tua boca.
Perco-me no teu abraço... oh como me perco! Quero sussurrar-te ao ouvido... e falha-me a voz. Quero falar-te... e não consigo. Os meus longos cabelos bebem o salgado que balança no ar... o sangue aflora à pele... com a mesma intensidade que o marulhar irrompe no céu negro.
Quero dizer-te... Leva-me ao céu... traz-me de volta à terra... e volta a levar-me ao céu... vezes sem conta... e falho... como falho...
Lutamos... eu quero saborear a tua pele ... e tu queres saborear-me a mim... e lutamos. Cada um quer delinear os contornos do corpo do outro... quer percorrer... milímetro a milímetro... a estrada que sacia o desejo que nos consome. Mas não... tresloucadamente... apenas o inflama... e cada vez mais.
Oh doce luta... tão doce luta...
Procuras segurar-me o rosto com as mãos... sei que queres ler o que te dizem os meus olhos... faço um esforço para os manter abertos... e beber o que me dizem os teus... és uma delícia... é o que me dizes vezes sem conta... Esta doce loucura apoderou-se de mim... do meu corpo... e sinto o meu espírito que se verga... cede... perante o mel que me embriaga os sentidos...
Procuro soltar-me... quero delinear o contorno do teu pescoço.... dos teus ombros... com a língua... quero deliciar-me com o sabor da tua pele... por uns momentos... momentos apenas... e tu... não te contendo de cada vez que o faço, envolves-me no beijo mais louco... mais doce... mais quente... de todos os tempos.
A chuva bate no vidro... as gotas sucedem-se... e ruidosamente.... parecem querer entrar... e eu sei... eu sei.... que apenas procuram beijar as gotas da doce condensação que se vai formando no interior quente...