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Blue 258

Blue 258

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Cartas à Mil Vezes Mais #6

20
Nov13

Minha querida MVM,

 

Logo de manhã, abri a caixa do correio sem saber que a tua resposta chegara e  esperava por mim.  Levei a tua carta comigo, e assim passou o dia: comigo e por abrir. Continua sem abrir enquanto te escrevo porque sei ter as tuas palavras guardadas, sei que as poderei ler e reler sempre.

Já não chove, e as nuvens geladas trouxeram o frio. Sabes como adoro a neve e a promessa dela está escrita nos céus - já nevou na Serra da Estrela - e como eu queria fugir para um recanto, juntar as familias, acender as lareiras dos bungalows, preparar petiscos perfeitos para este tempo e saborear o vinho morango (do Norte) quente e doce e quem sabe, o ponche que já promete o sabor do Natal. 

E assim nos juntamos, guardamos momentos, colmatamos saudades, estreitamos laços. Aproveitamos uns dias de descanso - que falta que eles nos fazem - e diversão na neve. Por vezes tenho sonhos bons, não achas? Eu também penso o mesmo.

Cheguei a casa gelada, movida pela ânsia de aquecer a alma. Liguei o forno, preparei uma bôla de carne e o apetite aguçou cá em casa. Preparei as maçãs, polvilhei-as com açucar amarelo e canela e é quando os aromas começam a dançar que eu me sento a escrever para ti.

Porque é importante escrever para ti, falar também de coisas banais, das coisas pequenas que nos preenchem os dias. No aconchego deste aroma delicioso que me enleva a alma, preparo-me para finalmente abrir a tua carta e ler as tuas palavras.

 

Abraço-te agora. Abraço-te sempre.

 

Blue

 

 

 

Cartas à Mil Vezes Mais #5

14
Nov13

Minha MVM,

 

Estendo o braço direito, envolvo-te num abraço e encosto-te a mim: percorremos a avenida às gargalhadas e na brincadeira como se (ainda) fôssemos adolescentes. E somos. Ainda somos. Livres, felizes e despreocupadas. Sem nenhuma preocupação que nos pese nos ombros, contamos os passos da calçada molhada, percorremos as montras, partilhamos as histórias da semana, os planos para o Natal.

 

Esquecemos os nós na garganta, os apertos no estômago, o rajar do olhar que ainda nos assoma de longe a longe. Ainda ontem senti um na garganta - já não lhe recordava o aspecto, já não imaginava sequer o que sentia. Apareceu-me assim do nada, sem contar, sem motivo aparente, aquele nó que não nos deixa respirar como se a sua motivação fosse mesmo asfixiar-nos. Mas não é. Procura apenas assustar-nos. É isso que quer, é apenas isso que procura. Vive do medo, do nosso medo.

E a menina pequenina que mora cá dentro assustou-se como  todas as meninas pequeninas se assustam com os monstros no escuro. E eles inflamam-se: o medo é o seu alimento. Quanto mais medo, maior o seu tamanho, maior o nó, maior a dificuldade em respirar. Então engoli-o. Engoli o medo, tentei respirar, tentei sossegar. Nem me importei com as lágrimas que queriam vergastar os olhos. Queres raiar-me o olhar, raia, vê se me importo. E engolia em seco enquanto tentava livrar-me daquela sensação terrível com o que nó me deixara.

 

Hoje é um dia feliz, dito eu. O amargo que ainda sinto na boca não me deixa esquecer o nó de ontem: mas é bom que assim seja. É bom que eu me lembre e daí retire a força para corrigir o que (ainda) não está certo. É o que tenho a fazer, é o que procuro fazer, é o que faço agora. Não deixo mais os maus sentimentos fechados numa caixa. Sem saber e sem querer, por acidente ou distracção, podem facilmente evadir-se quando alguém desafortunadamente abre a caixa onde estavam enclausurados. 

Por isso falemos. Do bom, do menos bom e até do mau. Falemos de tudo. Só assim nos poderemos sentir livres para percorrer a avenida já iluminada. As luzes, as decorações e os pinheirinhos de Natal encantam as meninas pequeninas :)

 

É bom escrever-te, falar contigo, por isso procuro fazê-lo mais vezes.

 

 

Um abraço daqueles que abarca toda uma avenida.

 

Blue

 

 


 

Cartas à Dani #2

07
Nov13

 

Minha doce Dani, 

 

As saudades que eu tenho sentido nestes dias de Outono. Das pessoas. Das minhas pessoas. Das pessoas que me fazem falta ao fim do dia. A vontade que tenho de encontrar o abraço que quero à porta de um qualquer lugar. O sorriso estampado nos nossos rostos, a alegria, a felicidade de enchermos os corações num abraço. Naquele abraço.

 

A vontade de nos perdermos entre abraços, entre sorrisos, entre portos de abrigo. Em acotovelarmos a fala com o que nos dizem as mãos, os sorrisos, os abraços. Em falarmos tanto e ao mesmo tempo. Em nos atropelarmos e sorrirmos porque nos atropelamos, em nos rirmos à gargalhada dos  nossos atropelos. Em sorvermos cada palavra dos nossos silêncios.  Porque dizem sempre tanto. Tanto.

E é sempre tanto, tanto,  e lutamos para sorver todo o momento, como se fosse único, porque cada encontro, cada abraço é sempre único mas é o mesmo, é sempre grande, tão grande e é sempre tanto. É tanto que acabamos por acampar num abraço que nunca mais acaba à porta de um lugar qualquer. Demoramos o tempo, o nosso tempo quando todos os outros entram e saem, passam por nós nunca indiferentes àquele abraço. E nós sabemos que muitos dos que passam por nós levam a vontade de um abraço mesmo sem se aperceberem.

 

Adoro esta época. As folhas caídas no chão, as árvores pintadas de amarelos, castanhos, dourados. As botas, as echarpes, os casacos quentinhos. Acho que é uma altura aconcehgante, em que saimos a rua e queremos sentir-nos aconchegados: daí as botas, os lenços, os casacos compridos. Daí os lanches em locais lotados de barulho e calor. O caminho de regresso a casa que nos sabe tão bem. Entrar em casa, descalçar as botas, pendurar o casaco, tirar o lenço do pescoço. E sentir-me aconchegada de novo. Orientar o jantar e sentar-me à secretária para escrever. Tempo para escrever. Tempo para saborear o momento em que coloco um abraço dentro de um envelope.

 

E foi assim que pensei em ligar-te, assim, do nada, e fazer-te uma surpresa. Porque já falamos tanto, mas tanto, que eu apenas sinto que não te vejo há tanto tempo, demasiado tempo e daí as saudades. Estas saudades que me fazem escrever e abraçar. Tanto.

 

 

Um abraço destes, intermináveis, que não tem começo nem fim e não precisa de lugar ou hora marcada.

 

Blue.

 

 

 

Cartas à Mil Vezes Mais #4

06
Nov13

 

Minha querida MVM,

 

Está a chover. Não é que a chuva me incomode; adoro dias de chuva que convidam a um refúgio naquele café da esquina ao final da tarde e me deixam apreciar o bulício dos pedidos para o lanche, cá dentro; as pessoas que fogem da chuva, correm para o autocarro, seguem para casa, lá fora. Gosto da sensação de aconchego que as vidraças embaciadas nos transmitem. Detectam o calor humano. E há dias como o de hoje em que aprecio verdadeiramente o caminho para casa:  de botas calçadas sigo rua abaixo de mão dada com a sensação de um dia completo nas costas e a vontade de chegar a casa sem pressas. 

 

Adoro dias como este, em que me lembro das pessoas, em que reservo uns momentos do dia para pensar nelas. Foi por isso que hoje me sentei à secretária, peguei numa caneta, no papel de carta, e escrevi pausadamente como se esperasse uma resposta imediata a cada frase que depositasse no papel.

 

Sentei-me e escrevi. Escrevi sentimentos, lembranças que são sentimentos, memórias, recordações. Já viste como tudo são sentimentos? Escrevi sobre coisas pequenas, sem tamanho até. Escrevi sobre coisas grandes, tão grandes que nem cabiam na folha. Demorei o meu tempo. Gosto de desenhar cada palavra, sabias? Dá-me tempo de a absorver. O que pode parecer estranho, confesso. Se ela vem de dentro, porque a quero eu reabsorver?

Sinto-me feliz. Ao ver que os bons sentimentos permanecem sempre dentro de  nós. Que crescem connosco. Amadurecem ao mesmo tempo (no nosso tempo) porque os carregamos connosco durante todo o percurso. E depois transformam-se. Como as crisálidas.  

 

Temos de marcar um lanche para o final de uma destas tardes. Pode ser cá em casa. Poderia ser no mesmo cafezinho das vidraças embaciadas. Mas depois terás de fazer comigo o percurso até casa. Quero que conheças o meu caminho e deixes os teus passos gravados nas pedras da calçada só para elas também guardarem a tua memória.

 

 

 

Um abraço forte e um beijo de faces rosadas pelo frio do Norte.

 

Blue

 

 

 

 

Cartas a ti #2

06
Nov13

Olá de novo! Já tinha enviado a tua carta pelo correio quando cheguei a casa e ouvi esta música:

 

 

Peguei num envelope - ainda estavam sobre a secretária - e coloquei a música lá dentro com esta nota. Selei-o. Sopesei-o abstraídamente porque na verdade me distraíam os pensamentos destes últimos dias. Tenho-me recordado de pessoas queridas e essas recordações trazem saudade. Ou será a saudade que traz consigo as lembranças?

De qualquer forma, quis enviar-te esta música do David e da Rita. Apareceu-me assim do nada e como diz tanto. Tanto. Dos dias, das recordações, das pessoas. De ti. De tudo.

 

Sweet kiss,

 

Blue

 

 

 

 

 

Cartas a ti #1

06
Nov13

Pego numa folha amachucada que tinha guardada e volto a ler o que agora me parecem notas soltas do que pensei enviar-te da última vez em que me sentei a escrever cartas. Aliso-a o melhor que posso, e nem sei o que te diga: não eram as palavras erradas, não estavam elas mal escritas. Daí alisar o papel e procurar reanimar a tinta das palavras.

 




5 de Novembro

 

Meu querido, 

 

   Como estás? Como tens passado? O que é feito de ti? Por onde correm os teus passos calmos, onde pára a tua certeza, onde mora a tua confiança? Onde te demoras tu?

 

Começo logo por te bombardear com perguntas, já sabes como sou e eu sei que sabes e aceitas daquela forma que não pede concessões. Aquela forma que até poderia ser dos outros mas que nunca é porque nela colocas tanto de ti; uma forma que eu agora sinto que só podia ser tua.

Sabes que por vezes tenho vontade de conhecer o teu fim de tarde? Perguntar-te como foi o dia. Saber como foi o acordar e o pequeno-almoço no café da esquina. Como foi o teu café depois de almoço. Saber de ti. Saber-te feliz. E enquanto conversamos, perguntas-me pelo meu dia e eu aproveito para contar-te...

 

Contar-te o meu dia, este dia, porque nem todos os dias são dias de te encontrar e abraçar a saudade deste tempo que já foi tanto tempo, tempo que parece não querer parar, tempo que continua a contar os dias, as horas; perde-se nos minutos e já nem conta os segundos. E é nestes dias que aproveito o bálsamo de um abraço, o sossego de um porto seguro, o aconchego do brilho de um olhar.

Dizer-te que hoje decidi, assim do nada, mas a querer algo em concreto, brindar o jantar com um belo tinto.  Abri a garrafa, quase  não deixei respirar e enquanto cozinhava, pensava: não há datas a celebrar, não é uma ocasião especial. Eu não preciso de um motivo qualquer para mimar o dia!, disse para mim mesma e sorri.

 

 

Enquanto te escrevo, tenho uma música a tocar em repeat; faz-me lembrar de ti de uma forma que eu não consigo precisar nem explicar. Sei não precisar. Quis enviar-ta (ei, não há por aí um cd com o meu nome?); juntá-la a esta carta porque a música sempre teve significado, e transcrever parte da letra que me diz tanto e faz sorrir.

 

 

Take me back to your place, 
Show me how to dance 
Let’s go watch the sunset 
With me in your hands 

Fly me on a jetplane, 
Take me to the moon, 
Wherever you go, 
I’ll follow 

 

 

Sabes o que é uma recordação querida? Uma memória que ganha corpo, e eu não sei se é do vinho, do aroma que se instalou pela casa, mas imagino que a poderia guardar numa caixinha. Como um tesouro. 

Ouve. Escuta. Sorri. Discorda ou concorda. Neste refrão vejo a tua cara. Será que ainda te percebo e tu  a mim?

 

Take me in your mustang, 
Let’s go cruise the streets, 
We’ll stay young forever, 
Cos love knows my beat 



Pergunto-me se o dia de hoje marca alguma coisa em especial. Passada. Pelo menos uma coisa te digo: marca o dia em que finalmente me sentei e escrevi uma carta para ti.

 

 

Um abraço. Daqueles. Do tamanho do mundo.


Da tua Blue.



Cartas à Dani #1

24
Jun13

Minha doce Dani, 

 

Acabei agora mesmo de escrever à nossa mvm e lembrei-me de ti. Se falo para (com) ela, lembro-me dos portos de abrigo e isso conduz-me inevitavelmente às tuas palavras. A ti. Enquanto lhe escrevia e pensava também em ti, percebia que os melhores portos de abrigo são as nossas Amizades. As verdadeiras, aquelas que se dignam chamar-se assim, as que se escrevem com "a" maiúsculo. Daí recorrermos tão frequentemente a elas. Sendo os nossos portos de abrigo, apaziguam as saudades que temos, o cansaço que porventura possamos sentir. Banham-nos com alegria, colocam um sorriso nos nossos lábios e refrescam-nos a alma. Não é isso mesmo o que os portos de abrigo (as amizades) fazem?

 

Daí pensar que nada melhor do que um gelado à beira d'água. Cor, alegria e doçura. Tens de vir a Viana e eu tenho de ir a Lisboa. Só para comer um gelado e abraçarmos os nossos portos de abrigo. Sabias que os portos de abrigo se abraçam e crescem ainda mais quando se abraçam?

Tornam-se mais fortes e completos e mesmo quando nos vamos embora, a magia não se perde e eles assim permanecem, como que sublimados. E de cada vez que eles se abraçarem, enlevam-se um pouco mais, um bocadinho mais a cada abraço. 

 

Despeço-me assim, num abraço. Um abraço que nos enleva e aumenta. Um abraço que é só nosso mas que por vezes é a três, e que mesmo sendo assim continua a ser só nosso. Tão nosso.

 

Beijinhos, Blue.

Cartas à Mil Vezes Mais #3

24
Jun13

Minha querida MVM,

 

Já não te escrevo há tanto tempo. Tenho saudades de ti, saudades das nossas palavras, e lembrar-me delas sobrecarrega ainda mais a saudade.

Sei que andei ocupada, a vida é assim mesmo, tem momentos em que nos ocupa, assolapa-nos de afazeres, cuidamos de nós, cuidamos dele (muito mais do que cuidamos de nós), cuidamos dos outros, cuidamos da casa, vivemos o dia e chegamos à noite com um sentimento de dever cumprido. A noite é feliz: partilham-se travesseiros, puxam-se lençóis e o sono envolve-se em conversas e leituras a dois. Já não estamos sós e o "2" agora faz-se completo, faz-se a dois. Se lhe subtraíres "1", o teu um mantém-se, único, indivisível. Já não se parte, já não se separa, já não se desfaz em pedacinhos. E é assim que deve ser. Sempre.

 

Sei que também tens andado ocupada, com a tua vida, com os teus afazeres, tal como eu. Ocasionalmente, lá nos encontramos, e mesmo que apenas se troquem umas palvras de fugida, o abraço que nos damos acalenta-nos durante horas e ajuda a minimizar as saudades. Os abraços são assim. Aqueles, grandes, cheios de amizade e amor porque a amizade é amor. Aqueles verdadeiros. Sentidos. E esses não encontras em qualquer lado. E é por isso que quando os consegues encontrar, de raros que são, costumas guarda-los como tesouros.


O calor chegou finalmente, e calor que é calor, pede água. O meu corpo sinto-o quente e cansado e penso em mergulhar. Mergulhar é um estado de alma. Eleva-nos de tal forma que nos sentimos etéreos. Imagino ser por isso que se sentem tão felizes os golfinhos e as baleias. E deve ser por isso que eu penso em água e em mergulhar. Depois de uns belos mergulhos, nada como nos deixarmos estar na margem: a areia brinca com a nossa pele, a água banha-nos de alegria, o sol brilha nos nossos olhos e sorrimos. A felicidade (amizade) não se faz só de palavras, compreende os silêncios e abraça os sorrisos.

 

 

Não sei porque razão a melancolia me enviou hoje um postal. Estaria de férias? Mas a verdade é que deu notícias e pôs-me a pensar. Acho que é bom falarmos nas coisas e usarmos as palavras. Não as podemos deixar esquecidas num recanto qualquer a apanhar pó. Temos de as ler, temos de recordar e lembrar que tudo tem o seu lugar. Que tudo encaixa de alguma forma na nossa vida. Que tudo faz sentido. Se o deixarmos de fazer durante muito tempo, acumulamos qualquer coisa cá dentro.

Qualquer coisa que eu nem sei bem o que é, ainda não sei o que é, mas talvez não seja nada, talvez seja apenas o cansaço que hoje sinto. Será cansaço, mvm? Lá no fundo, bem no fundo, fazem-me falta as tuas palavras e um abraço que dura horas. Por isso te escrevo.

 

Espero encontrar-te bem, atarefada nas coisas da vida, cansada apenas da azáfama que é cuidarmos de nós e dos outros que são a nossa vida.

Termino esta carta com um abraço. Um daqueles que duram horas. 

 

 

Beijo, Blue.