Meus caros XY,
Eu sei que isto de lidar com XX, não é fácil. Nada fácil. Eu sei, assumo, e corroboro tal afirmação perante seja quem for. Apresento provas, maquetes, esboços em 3D. Embora não adiante. Acreditem, não adianta.
Dizem que as mulheres são complicadas, dizem. E até têm razão. Ou porque agem de determinada forma quando o que sentem, desejam e querem é precisamente o oposto do que demonstram. Ou porque dizem uma coisa, quando o que querem é dizer outra totalmente diferente. Os homens não percebem as mulheres. E as mulheres, bem, as mulheres, se formos bem a ver a coisa, também não se percebem a si próprias. Intrinsecamente complicadas. É o que nós somos. Mas há volta a dar, isso vos garanto eu. Pensem nisto como uma língua estrangeira - munam-se portanto de um bom dicionário, façam anotações ao longo do caminho porque ainda por cima, há variações no dialecto de mulher para mulher. Anotem na margem da página, cada traço, cada gesto, cada entoação de voz, cada silêncio.
Se uma mulher vos manda foder uma vez, aconselho-vos então a darem-lhe dez minutos até deixar de ferver. Não falem, não façam o mínimo barulho, desapareçam-lhe do campo de visão. E mesmo assim, mantenham o silêncio. Fomos abençoadas com um raio de um sonar que vos detectava um qualquer trejeito facial, mesmo que na China. O que pretende uma mulher num caso destes? O que quer ela dizer? Simples: dá-me dez minutos para acalmar, perceber a parvoíce pela qual me aborreci e concluir o assunto com um sorriso nos lábios e um abraço.
Se uma mulher vos mandar foder duas vezes - no mesmo dia, na mesma hora, e com um espaçamento provavelmente inferior a dez minutos - bem, falem, insistam, invadam-lhe o campo de visão, e se possível, toquem-lhe. De forma suave, nada controladora ou admoestadora. Toquem-lhe. Como quem faz uma carícia. O que queremos nós então neste caso específico? O vosso carinho. A vossa atenção. E neste caso, a falta de qualquer exemplo dos acima mencionados, apenas irá fazer com que a temperatura volte a subir de novo. E aumentar a pressão.
Porque quando vos mandamos foder uma vez, estamos provavelmente a entrar em ebulição por um motivo - provavelmente parvo - qualquer. Nesse momento, queremos ou precisamos (nunca sei se chegamos a saber se queremos ou não) de, das duas uma:
a) libertar alguma pressão - se estamos a ferver e já não há forma de reverter o processo - e, nesse caso, qualquer palavra ou gesto vosso fará com que provavelmente parte dessa pressão vá dirigida na vossa direcção - o que é algo a evitar a todo o custo.
b) acalmar e analisar a cena - se o processo ainda está numa fase que permite o retrocesso. Imaginem agora uma enorme fornalha e a temperatura, contra todas as expectativas a decrescer - esse momento, esse mesmo, é aquele em que os meus caros XY não falaram, não fizeram o mínimo barulho e desapareceram do campo de visão.
Quando vos mandamos foder duas vezes, estamos numa fase delicada da ebulição: um simples gesto, um carinho, uma palavra bastam para desligar o temporizador daquele bomba tão sensível associada aos cromossomas XX. Porque nós somos muito emotivas - sentimos e pensamos com o coração - e depois, agimos a quente. Se vos falhar a tradução neste caso, o mais provável é que ao primeiro motivo parvo que nos deixou a ferver, se junte um segundo: o da atitude parva. E aí, aí, é que somos nós a não falar, a não fazer o mínimo barulho, a desaparecer-vos do campo de visão. Quando o que queremos é esquecer todos esses motivos parvos e rir convosco do quão parvas fomos.
Atenção: é óbvio que todo e qualquer XY é culpado daquele motivo parvo inicial que nos deixou a ferver. O vosso problema é que não vos apercebeis sequer disso. O nosso problema, é que damos importância a tudo. Mesmo a coisas parvas. Pá, porque somos efectivamente emotivas ou qualquer coisa do género. Isto deve ter uma explicação científica plausível. Deve.