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Blue 258

Blue 258

...

Do coração que é parvo

08
Jun10

Eu já vos tenho dito que o coração é parvo. E é. Decerto que por esta altura, já muitos concordam comigo. E o coração, para além de parvo, parece muitas vezes ser acometido de uma verborreia incontrolável. É que fala, fala, fala e não há modo de se calar. E se, quando começa a falar, nem lhe respondemos - que é logo uma tentativa de lhe cortar as bases - ele persiste, insensível aos nossos esforços, e debita incansável o que lhe vai na alma. E nada o parece deter. Nada.

 

A situação pode tornar-se caricata se, e quando, nos encontramos num local público acompanhados. Tentamos, logo à partida, não dar bandeira. O que não é nada fácil. E é ver-nos ali, compenetrados,  aparentemente atentos, quando cá por dentro, se desenrola a palestra mais dinâmica a que eu alguma vez assisti.

E o coração gosta de palestras. Oh se gosta. E de tempos a tempos, ostenta descarado as suas qualidades de orador. No entanto, não deixa de ser curioso, quando tal sucede e o cenário é outro. Quando nos encontramos sozinhos, tranquilos, de regresso a casa, passando pela praia  num dia de chuva. É que mesmo quando fala só para nós, mantém a mesma persistência e eloquência.

 

Mas o raio do coração quer falar. Diz que tem muito a dizer e que eu não o deixo. E a verdade é uma, se eu lhe permitisse escrever, oh se eu lhe permitisse escrever, o que ele não escrevia. O que ele não fazia. O que ele não dizia.

 

Se deixássemos que os corações falassem entre si, seria muito mais simples.  Podemos até imaginá-los, frente a frente, músculo , veias descarnadas  e sangue palpitante - são feitos do mesmo material, falam a mesma língua - seria bem mais fácil. Nós é que acabamos por complicar tudo.

Bastava então eliminarmos a variável indivíduo. Sim, tudo aquilo que somos, com direito a fosso e masmorras. Tudo o que nos prende, ou parece prender. Porque o coração é livre. Solta-se sem dar aviso prévio e voa. E voar é bom, muito bom. O pior é quando, depois de nos sentirmos nas nuvens, nos vemos obrigados a laçá-lo e a puxá-lo de volta. É quando dói. Depois de inflado por um sentimento, não é tarefa fácil voltar a encaixá-lo no mesmo lugarzinho de antes. Não cabe.

 

E o que fazer? Deixá-lo fora, preso por uma corda, não podemos; deixá-lo à solta, não convém; e metê-lo à força cá dentro mostra ser  doloroso demais. E o que é que acabamos por fazer? Primeiro, cortamos-lhe as asas. Depois, amordaçamo-lo. E isso não se faz. Não se faz mesmo. Por isso ele reclama. E com toda a razão.

 

 

Updates

02
Set09

 

Update das horas de sono

4h30, e, surpresa, ainda não dormia.

Acordei às 9. Nem 5 horas de sono.

Deixei-me estar mais uns 40 minutos na cama.

Achei que fazia falta. E deu bom resultado. Vão já perceber porquê.

 

Mãe chama, levanto-me.

Lá tive de ajudar a mãe. Lindo.

Pois... ainda não eram 10h30 e já estava com humor...

Já só pensava: what the fuck?

Mas disse para mim mesma:

Não, não vou permitir que isto me arruíne por completo o dia.

E não é que resultou? Os tais 40 minutos...

 

Update das 4h30

Bem, lá estava eu, a tentar que a música me adormecesse, certo?

À segunda tentativa, mas pronto, falhada na mesma.

Um mosquito inoportuno, zás, deixa-me ali de olho arregalado.

Luta para o aniquilar bem sucedida à 3ª tentativa.

 

Volta para a cama, e ok, vamos lá dormir, certo? Errado.

Para além do que já me populava a mente, eis que mais uns, se juntam à festa.

Não bastava lembrar-me do P, eis que me vem ao pensamento, o B e o outro B.

Todos nossos colegas. Todos com paixão pelas motos. Todos se foram da mesma forma. Ceifados por outros, por descuido ou infelicidade. Ou ambos. Na flor da vida.

 

Update do outro assunto

Mal acordo, o outro assunto, ainda lá estava, remetido para segundo plano, mas ainda lá estava -  outros juntaram-se entretanto.

E esses, que não estão cá, mas estão, de cada vez que nos lembramos deles - ocupavam agora a minha atribulação.

Como se não bastasse, e por pensar neles, deduzo eu, lembro-me de mais um, o N.  Não foi de moto, mas também se foi. Uns anos de juventude... marcados.  

 

E eis que hoje estou assim...

Aproveito para colocar aqui esta mesma música que agora toca.

Em memória destes que partiram.

 

 

 

 

Cabo das tormentas

11
Jun09

Porque é que, continuamos a fazer coisas que sabemos não querer, que sabemos exactamente como se vão desenrolar, que sabemos ser um sacrifício durante cada minuto da sua duração?

 

Logo hoje. Hoje que é um daqueles dias em que me sinto como me sinto. É um daqueles dias em que só quero o meu canto. O meu resguardo. Poder estar sossegada com os meus pensamentos. O meu mais-que-tudo, esse, thank God, dá-me espaço. Já deve saber que quando estou assim, o melhor é deixar-me estar tranquila um bocado. Deixa-se estar no outro canto da salinha - sei que vai olhando de quando em quando para mim, imagino que seja para ver se estou bem, se o meu estado mudou, ou se simplesmente preciso de algo. Eu também vou olhando para ele, mas no meu caso é mais para me assegurar que ainda ali está - que não se fartou e foi embora. Corro o risco de isso acontecer.

 

 Mas pronto, acabamos por ir. Tentamos convencer-nos de que o que interessa, o que é realmente importante, não é esse sofrimento que já estamos a sentir, mas  o contribuir para a felicidade de alguém, dar-lhe essa pequena alegria. Se fosse outa pessoa qualquer, era logo um vai depressa ver se eu estou ali na esquina.

 

Não vou. Não quero ir. Mas já estou a ir. 

Já cá estou. Otária, sabias muito bem como ia ser.

Como está a ser.

E pronto. Cá estou eu.

Não oiço nem escuto uma palavra do que dizem.

Penso em palermices. Patetadas. 

Praticamente não abro a boca.

Não estou cá. Já vou longe.

Perdida nos meus pensamentos.

 

Sabia que hoje não era dia.

Sabia como me sentia.

Queria estar sozinha, sossegada no meu canto.

Mas não. Acedi a vir.

 

Posicionada estrategicamente num canto.

De onde vejo todos.

De onde, para me olharem - querendo dirigir-se a mim ou não

Só olhando-me de frente.

O que me chama a atenção.

Alertando-me para executar um movimento 

que transmita, sim claro, estou a ouvir-te

No I'm not. But that doesn't matter. Doesn't matter at all.

 

Sofrimento. Dor excruciante.

Aguenta, otária - sabias bem que não querias vir,

sabias bem como ia ser.

 

Aguento os insuportáveis segundos 

Que claro, levam uma eternidade a passar.

Aguento. Aguento. 

A certa altura, e num repente,

Penso no meu rosto.

Aoh! Estava demasiado alheada e perdida dentro e fora de mim,

que acabei por descurar um aspecto tão importante. 

E agora? Sentia as olheiras cavadas sob os olhos.

Os cantos da boca descaídos.

O rosto duro. 

O olhar - ausente com toda a certeza.  

 

Tento recompor-me, sabendo que está perto do fim, que está quase a acabar.

Tento pensar, que se alguém comentar, dou a desculpa do cansaço.. e do tempo.

Resulta sempre.

 

Finalmente lá acaba.

Os mesmos pensamentos de sempre:

nunca mais me meto numa destas

eu já sabia tão bem que ia ser assim.

 

Conduzo no regresso.

Silêncio. Dos dois lados.

Um pouco incomodativo (para mim não, claro - o silêncio era tudo o que queria)

Para não deixar aquilo assim, faço um esforço digno da força de Hércules para falar.

E este tempo, não?

 

E pronto. Já cheguei a casa.

Corro lá para cima, para junto do meu mais-que-tudo.

 Conto-lhe que fora um tormento.

Em breves palavras. Poucas, mas cheias de sentimento.

Volto-me para o meu cantinho.

Pareço querer acariciar o vidro da secretária.

Como é bom estar em casa.

Olho por cima do ombro,

asseguro- me que o meu mais-que-tudo continua ali.

Entretido com um filme ou um jogo,

parece disposto a dar-me mais algum tempo só para mim.

E pronto. Sei que posso emaranhar-me de novo nos meus pensamentos.