«Eu amo com o corpo todo. Eu amo com o coração, com as mãos, amo até à ponta dos cabelos. Eu choro com o corpo todo, sofro inteira e inteiramente. Choram-me os olhos e a alma, os tornozelos e os dedos dos pés. E quando sofro, sofre o céu, sofrem as flores, sofrem os transeuntes, sofrem as pedras da rua… O mundo inteiro parece estar de luto. Eu não entendo o ameno, não sei o que isso é.
Não entendo a meia estacão. Eu ou morro de frio e visto mais camisolas do que as que me cabem, ou morro de calor debruçada na janela com o cabelo para baixo. Eu nunca “estou satisfeita”, ou estou morta de fome ou tão cheia que até falar custa.
Eu nunca gosto mais ou menos de um sítio, nunca. Ou adoro de morte ao ponto de cheirar a casa e poder andar descalça, ou detesto ao ponto de preferir ficar em casa a escrever baboseiras.
Eu não entendo o que é isso da “música levezinha”, eu preciso que a música me atropele, me dispa. Preciso que dê um pontapé na porta e me fale como se me conhecesse da vida toda.
Eu não me rodeio de “gente porreira”. A gente porreira é o atum da humanidade. Eu rodeio-me de gente, com os melhores e piores feitios, gente calma e pacífica e gente que tem trovoada. Mas acima de tudo gente. Gente que, seja qual for a sua verdade, é de verdade.»
8 OU 80 por Carolina Deslandes no Maria Capaz