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Blue 258

Blue 258

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It´s nearly morning...

20
Fev14

Uma semana. Hoje, à hora de jantar, para ser mais precisa. E ainda nada. Este nada que traz um vazio frio como o nevoeiro. E eu continuo a procurar, mas de cada vez que volto de braços vazios, carrego um sentimento terrível que me inunda de solidão. E eu não estou sozinha. Mas pareço perdida num sentimento que parece ser só meu e de mais ninguém. Mas hoje tem de ser um dia bom. Porque é especial. 

 

 

Há tanto que eu queria dizer. Por pouco que fosse sempre era alguma coisa. Mas hoje só queria colo. Colo que nem todos sabem dar - deve ser genético, acho eu (either you've got it or you don't)- e era o que eu queria hoje. Colo logo ao acordar, logo de manhãzinha... as tuas mãos no meu cabelo e eu no teu colo, e olha o mundo parava lá fora. Tomava-se café, sumo de laranja, uma fatia de bolo de abóbora acabadinho de sair do forno. Não gostas de abóbora? Aprendias a gostar. Só depois se voltava à vidinha de todos os dias.

Dos roubos

10
Out10

 

Quando encontramos algo (palavras, fotografias, sentimentos ou momentos), que vai dentro da linha do que andamos a escrever, a pensar ou até a sentir (ou porque simplesmente nos diz tanto), roubamos.

Harold Ross

 

 

 

Não havia luz que te tornasse melhor

 

«Não havia luz que te tornasse melhor. Apagaram-se porque sopraste da frente os pedaços que te ligavam ao mundo. E correste. Correste pela encosta e não deixaste que te apanhasse. Ao invés, troçavas do cansaço dos dias e das horas em que sinto falta de ti.

O que te faz desligar e reinventar todas as vezes que deixamos a nossa casa e nos aventuramos nas vidas dos outros? Queres conquistas? Fazemo-las todos os dias, cada um com mais sorte que o outro. E crescem os dias. Levam-nos com eles as milagrosas manhãs de neblina em que abraçados vencemos o frio e acabámos deitados.

No cimo da encosta que subimos, cada um com sua vontade, escrevemos palavras de amor numa correria desenfreada.

Pelo caminho deixámos a vida que os outros querem para nós e que nos sugerem todos os dias. Mal sabíamos, que um dia, seria a nossa a que chegaria primeiro.»

 

 

Liliano Pucarinho, no night indigo

 

 

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27
Set10

«Lembro-me agora que tenho de marcar um

encontro contigo, num sítio em que ambos

nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma

das ocorrências da vida venha

interferir no que temos para nos dizer. Muitas

vezes me lembrei de que esse sítio podia

ser, até, um lugar sem nada de especial,

como um canto de café, em frente de um espelho

que poderia servir de pretexto

para reflectir a alma, a impressão da tarde,

o último estertor do dia antes de nos despedirmos,

quando é preciso encontrar uma fórmula que

disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É

que o amor nem sempre é uma palavra de uso,

aquela que permite a passagem à comunicação;

mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,

de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós

leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio

ser, como se uma troca de almas fosse possível

neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e

me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas

vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,

isto é, a porta tinha-se fechado até outro

dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então

as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem

sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar

um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos

para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que

é também a mais absurda, de um sentimento; e, por

trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia

seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores

do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos

encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que

o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí

que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,

que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo

das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.»

 

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”

 


 

Roubado do Sussurros e Respiros