Este frio, esta chuva, trazem-me à memória momentos de extrema doçura. Será talvez por isso que sorrio. Apesar do frio, o meu corpo exala um calor intenso. Imagino que produzido pelo coração. É ele o detentor de todas as marcas de doçura. Palavras, carinhos, abraços, beijos. Entrega. Comunhão de almas. E o coração, que de parvo não tem nada, encerra em si o mel, preservando-o. Guardando-o como um tesouro. Guarda-te a ti. Bem cá dentro do meu peito.
P.S. E hoje vou dormir com um sorriso nos lábios. Vou. Vou adormecer a pensar em ti. Vou. Embalada por uma banda sonora que é especial. É. Ainda é. E sempre será. É esse o poder de uma banda sonora. É esse o poder dos momentos mágicos gravados no tempo.
Blue. Azul. Se lhe juntarmos duas colheres de vermelho da china, imperial nas cores de um coração que bate descompassado e as artérias vibram de fulgor, passamos a ter um roxo. Sóbrio, sereno e revoltado. Bruised.
Imperioso é o sangue que jorra nas veias, e a cada batida do coração, bombeamos mais um pouco de laca de gerânio e vermelho de câdmio. Transmutamos a cor. Cedemos. Guardamos.
Vermelho fulgurante. Somos a cor do sangue que nos enrubesce a alma. Que nos alimenta. Que nos mata a sede.
Juntamos uma pitada da calma e serenidade do branco, e vamos envolvendo suavemente, com um ritmo que é só nosso, tão próprio, tão... até chegarmos ao rosa agridoce. Um querer simultaneamente ácido e doce. Doce, por querer; ácido, na loucura de conter o vermelho.
Rosa. Transcendemos à mais pura doçura que há em nós, mulheres que amam com toda a impetuosidade do seu sangue. De corpo e alma.
Modelamos as cores, envolvendo-as em sentimentos, marcando o ritmo com o bater do coração. E encontramo-nos de novo no roxo. Bruised. Bruised hearts. That's all we are. When we're not bloody red inside.
A vida apresenta-nos as cores e os sabores, entrega-nos os ingredientes de uma receita que não se encontra nos livros, e nós complementamos com o nosso toque pessoal, adicionando pitadas disto e daquilo. Arriscamos. Procuramos a cor do sabor que nos parece perfeito.
Sentada no sofá. Aconchegada no teu abraço. Cabeça pousada naquele sítio, naquele, naquele... tu sabes, tu sabes... Envolta por uma doçura que parece não ter fim... e o teu cheiro impregnado em mim, em mim, em mim... E espero o toque das tuas mãos, o calor do teu corpo, o mel do teu olhar... enquanto os meus olhos vislumbram a chuva que brinca na praia e o vento que acaricia a vidraça. Espero por ti, na casa da praia, aquela, sem vizinhos por perto.
Give me more than one caress To satisfy this hungryness We are creatures of the wind Wild is the wind
O marulhar sobe de tom e o vento sibila a tua ausência... o mar ama revoltado, voltando-se para a lua, suplicando a sua doçura. E a lua, impávida e serena, parece troçar lá do alto. O mar, agora encrespado, procura lançar o seu manto salgado cada vez mais alto. Quer atingir a lua, tocá-la, envolvê-la, e diluir-se na sua doçura. Falha, e rebenta a sua fúria nas rochas. Maldiz a lua e jura amor ao sol. Ao sol, a quem vê indiferente de dia. Ao sol.
Mas é a lua que ama, foi esta quem o enfeitiçou. E eis que chegas tu, acalma a revolta lá fora, e um calor se apodera do meu corpo. Entras, e ao ver-te, o meu coração bate descompassado a melodia afinada do amor. Aproximas-te, e os acordes soam mais alto. Levanto-me e voo na tua direcção: já o coração pula de emoção. Corro para o teu abraço, inspiro profundamente o cheiro da tua pele, uma e outra vez... mais uma vez. Resguardo o meu corpo no calor do teu, afundo-me na tua doçura, perco-me no castanho dos teus olhos. Acaricio-te o rosto, e ronronando como um gato, peço-te: abraça-me com força. Abraça-me...
Abraça-me. E tu sorris, desarmando-me, quando desarmada estava eu, e mesmo que não estivesse, ao ver-te sorrir com o olhar, deixo cair as armas ao chão, e ao ver esse sorriso doce nos teu lábios, perco as forças, e rendo o meu corpo ao teu. A ti. À tua vontade.
You... touch me... I hear the sound of mandolins You... kiss me... With your kiss my life begins
Love me, love me... Say you do Let me fly away... With you
As gotas de chuva estremecem no vidro da clarabóia. Parecem brotar dos céus como que afastadas de um rio doce e etéreo. Perderam-se do seu curso natural... e beijam agora tudo em que tocam.. Beijam o mar salgado, a areia molhada, o vidro aparentemente frio, a pedra viva, a madeira quente.
Abro os olhos. Vejo os teus. Castanhos. Brilhantes. Como brilham os teus olhos! Os teus lábios nos meus. A tua língua já balança com a minha. A minha boca, tem o teu sabor... o nosso sabor. Sinto o teu perfume, o cheiro da tua pele, o teu cheiro no meu corpo - indícios da noite mais doce perdida no meio do temporal. Recordo o meu corpo colado ao teu... recordo saborear a tua pele - como adoro o sabor da tua pele! - beijar-te o pescoço, os ombros... perder-me na tua boca... no teu beijo! Não sei se me completas... não sei se me fazes esquecer de mim... ou se, simplesmente, me trazes à superfície. E isso importa?
Envolve-me no teu abraço... faz-me perder no teu beijo... no nosso beijo. Faz-me esquecer o mundo lá fora... envolve-me novamente na doce loucura a que nos entregamos. Reaviva as marcas desta loucura no meu corpo. Relembra as linhas do meu rosto... desenha os meus lábios... com a ponta dos teus dedos. Dedilha o meu corpo... fazendo ressoar novamente a música... o mel.