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Blue 258

Blue 258

...

# 51 Soulless or soulful

25
Out10

Trocamos o sofá pela cama. A luz das estrelas incide na clarabóia, projectando sombras aqui e ali, no quarto, nos lençóis, no meu corpo e no teu. O mar retumba no silêncio da noite. Ruge, querendo acordar a vida que há nos corpos extenuados. Nas almas exultadas.

 

Wake up
Look me in the eyes again
I need to feel your hand upon my face

 

Acordo e vejo-te dormir nos meus braços. Acaricio o contorno do teu rosto. A barba, aquela barba... Sorrio. Deslizo os dedos pelos teus lábios. Desenho carícias com a ponta dos dedos... na tua pele. Aproximo o rosto do teu: o teu perfume, o teu cheiro. O calor que emana do teu corpo. Beijo suavemente cada pálpebra adormecida. E deposito um beijo leve e doce nos teus lábios. Sorrio, e abraço-te forte. Acordo-te com um sorriso nos lábios e um sentimento que parece pulular em cada célula do meu corpo.

 

I think I might've inhaled you
I could feel you behind my eyes
You've gotten into my bloodstream
I could feel you floating in me

 

 

Pesa sobre mim o ritual do qual já te tornaste indissociável. Sucedem-se as imagens que conheço tão bem, repetidas vezes sem conta. O meu rosto no teu peito, naquele sítio, naquele. O teu cheiro, o teu perfume. A minha respiração que teima em te beijar o ombro, o pescoço. O meu olhar que segue os contornos do teu queixo, foge da tua boca, e vagarosamente, demoradamente, desenha a tua pele morena, só para depois desaguar no teu. A minha boca que se detém no teu beijo. Sorrio. A tua mão segura-me o rosto e os teus dedos acariciam os meus lábios. E esse sorriso malandro, esse, esse mesmo, esse sorriso maravilhoso, deliciado com a entrega desmesurada que sabes que é a minha. Gestos, rituais, tão próprios, tão teus, tão meus, tão... nossos.

Não falas. Sabes que comigo não é preciso falar. Sabes o que valem os silêncios comigo. Tanto, tanto... Ao veres o meu olhar embevecido - de que outra forma posso eu olhar para ti? - o teu abre-se num abraço, e sinto os teus braços rodearem-me e cingirem-me o corpo. E apertas-me, abarcas todo o meu ser nesse abraço. E eu estremeço, estremeço como se fosse de medo, mas não é de medo, é a certeza de todos os medos que me abandonam. Nos teus braços sinto-me segura. É o que me parece dizer-te a minha pele. Nos teus braços sinto-me segura.

Um abraço desenfreia o sangue adormecido, que aos poucos volta a circular frenético, quente, no meu corpo. Esse abraço não se move apenas pelo contacto da pele, pelo toque dos corpos, não. Esse abraço potencia o movimento do sangue no corpo, fazes do meu corpo o mar, do meu sangue, a força das marés. Tu... e esse abraço que é o teu.

 

 

 

#38 Dança comigo

24
Mai10

 

Uma harmonia deliciosa espraia-se pela casa.  Entusiasma a madeira. Trespassa a pedra.  Desafia a areia. Insinua-se no mar. Perde-se na crista das ondas.

Vem almoçar a casa. Salada de legumes frescos e  nozes. Lombo assado com ananás. Vinho tinto.  Tons de vivacidade polvilhados pelas orquídeas selvagens, aqui e ali.  Azuis profundos, roxos exuberantes, amarelos luminosos, vermelhos imperiais. Vem almoçar a casa... aquela, na praia, sem vizinhos por perto.

 

Oiço-te chegar. Espero-te à porta. Entras e beijas-me num abraço. Aquele abraço que alimenta... e tempera a alma. E nesse mesmo abraço  enlaço-te firmemente pela cintura e a minha boca suspira: dança comigo.

Num abraço ainda mais apertado, beijas-me o pescoço, os ombros... as tuas mãos percorrem as minhas costas, o pescoço, os ombros... também elas beijam. Também elas querem beijar. A tua mão esquerda afunda-se no meu cabelo e a direita conquista os meus lábios... que sem demora cedem aos teus.

Com esse olhar enlevado de ternura... o mesmo que tens neste momento, sorriso malandro nos lábios, esse, esse mesmo que te aflora agora aos lábios, apertas o meu corpo contra o teu, e sussurras ao meu ouvido:

 

When we dance, angels will run and hide their wings

 

 

E eu entrego uma vez mais a minha boca à tua. Dou-me por inteiro num só beijo. No teu beijo. E num beijo sabes que sou tua. Um beijo que é entrega mútua. Beijamo-nos como se o amor não tivesse fim. Os corpos rendem-se à paixão... As almas ao amor.

 

 

The priest has said my soul's salvation
Is in the balance of the angels
And underneath the wheels of passion
I keep the faith in my fashion
When we dance, angels will run and hide their wings

 




#35 Sede de querer

24
Abr10

 

 

Deitados num leito de mel, envoltos num manto branco de plumas: o mundo parece resumir-se a esta cama de  madeira maciça, de linhas direitas e imponentes.  A este quarto dominado pelos tons terra e da natureza: o castanho da madeira, o verde das flores frescas. Ao mel que nos une, à reflexão da luz no vidro, à sua refracção na água. Ao vento que embala os tecidos que vestem o quarto. Aos corpos despidos.  À pele nua.  A ti. A mim. A nós.

 

Air stands still
And I can't move
Time has stopped
At one look through
Colours fade the walls out loud

 

O teu braço esquerdo que me abraça, que me cerra contra ti. Eu, encaixada, e virada para ti. A cabeça pousada no teu braço, as minhas pernas entrelaçadas nas tuas. Beijo-te a parte interna do ombro. Cada saliência, cada depressão. Beijo com os lábios, com a respiração quente e doce. Numa trajectória descendente,  percorro vagarosamente cada espaço entre as tuas costelas, até à anca. Beijo, envolvo a pele com os lábios, brinco com a língua. E assim me deixo estar, até que um de nós adormeça.

 

Something inside me says
I am still waiting for the hurricane
And where is the missing piece?
You.. you have taken it
And a part of me

 

Dormes. Encosto a respiração à tua pele. Acaricio ao de leve os teus lábios.  O teu rosto. Vagueio pelo pescoço, pelos ombros... sigo a linha das tuas costas... com a  língua. Serpenteio, beijo-te a pele, cubro-a de pequenos e leve beijos. Assimilo o teu perfume. O teu cheiro. O aroma do tabaco na pele. Tudo, em ti, é delicioso... tudo.

 

Downstairs scares me
Outside sounds like ghosts are
quietly playing vibes
Days in shape of hide me, please

 

 

Faço-te arrepiar... Acordo-te. Em resposta, esse olhar profundo que lanças em busca do meu. Como brilham esses olhos castanhos... como brilham!  O teu sorriso malandro, que reconhece a minha provocação. A tua pele nua, que apenas quer respirar a minha. O teu corpo, que já pede  o meu. O teu cheiro, que apenas se quer entranhar no meu... como eu me entranho no teu.

Lanças os lençóis ao ar, e num rompante, o teu corpo na procura do meu,  a tua boca na minha e nós enlaçados num abraço cheio de querer. Querer... oh querer! Este querer que nos arrasa a pele, este querer que nos reduz à avidez com que as nossas bocas matam a sede. Este querer que se reduz a esta sede. Uma sede de querer. De te querer... a ti.

 


Home has the echo as a friend
So I leave the bed unmade
All day


#7 Aperitivo... ou sobremesa...

27
Out09

 

Abres a porta - sinto o ar frio e salgado que me desperta os sentidos. Pequenos choques eléctricos percorrem-me o corpo... fazem palpitar as papilas da língua. Atordoada, apenas sorrio. Ao sorrir, a sala parece iluminar-se.

Entras. Os teus olhos brilham, o teu sorriso atordoa-me um pouco mais. Não avanças. Observas-me, furtivamente. Parecemos embarcar numa dança, parecemos mergulhar na dúvida... hoje, quem será a presa... e o predador?

Recupero do transe, e avanço. Como um felino. Graciosa e veloz. Ataco-te. Sinto os meus lábios nos teus. Os teus nos meus. Sinto as minhas mãos que percorrem o teu corpo. E as tuas mãos, que percorrem o meu. Sinto. Sinto sem saber os limites do meu corpo ou do teu. Reconheço as mãos, a língua... e tudo o resto... sou eu e tu... sem fronteiras, sem limites definidos. 

Passo as mãos pelo teu cabelo orvalhado.  Procuro concentrar-me no frio do teu rosto que contrasta com o meu. Quente, tão quente. Sinto o coração que bate a mil... esse sim, em uníssono com o teu.

Esquivo-me em direcção da mesa. O vinho já servido, o jantar pronto. Ergo o copo como que perguntando, queres? Não te moves. Não dás um passo.  Pareces a presa hipnotizada pelo predador - imóvel. Pensarás em como me escapar? Não, isso não...

Encosto-me à mesa. Vês a provocação nos meus olhos, nos meus lábios, no meu corpo. Sorris - pensarás que agora me encontro à tua mercê? Assim, tão facilmente? Sem luta? Desengana-te. Tinha-te avisado.

Confiante, caminhas na minha direcção. Com um movimento brusco, repentino, levantas-me e  apoias-me na mesa. A contrastar com este rompante, sinto as tuas mãos a percorrerem-me as pernas... que docemente enlaças na tua cintura. Sinto as tuas mãos na cabeça, no pescoço, nos ombros... e a percorrerem-me as costas. Sinto os teus lábios nos meus. Sinto o meu corpo que quer o teu. Sinto o teu... a querer fazer parte do meu.

Pressiono-te com as pernas e ergo-me da mesa. Sorris. Pensas imaginar o que quero. Desço do teu abraço, e procuro encurralar-te... encosto-te à mesa. Tinha-te avisado.

Rasgo-te a camisa. Mordo-te. Beijo-te o peito. Deliras. Desaperto-te as calças. Com o meu corpo, deito as tuas costas sobre a mesa. Desarmo-te. Procuro dispor-te na mesa  ao meu gosto. Tinha-te avisado.

Também eu subo para a mesa. Avanço. Felina. Sentes o desejo em cada poro da minha pele. Apercebes a loucura nos meus olhos. Finalmente compreendes. Sabes. Quero partir a loiça toda. Rendes-te. Pensavas ser a sobremesa... mas não... e eu tinha-te avisado.