Poços e o loving feeling
Ontem, sentia-me no fundo de um poço. Tinha frio, estava húmido - o poço tinha alguma água, lógico - e estava escuro. E eu odeio o escuro. E estava sozinha. E a sentir-me só. Desamparada, quiçá.
E ainda por cima, não tinha grande sinal no telemóvel - o poço era antigo, as paredes não eram as comuns anilhas de cimento, mas sim a pedra dura e contundente. (E a esta altura, quem estiver a ler, já está a pensar: esta gaja está a bater bem? Não sei. Talvez não. Ou estou só para aqui a desabafar.)
Adiante. Sentia-me desencantada com tudo e todos. Comigo mesma inclusive. Não sei se terá sido por isso, por culpa da rede do telemóvel, da ligação, da hora, do momento, da vida, mas a conversa foi estranha. Foi. Sem dúvida. Tudo bem que eu já estava como estava: a terem de me arrancar as palavras a saca-rolhas.
Mas a conversa foi estranha. Senti-me estranha. E pior de tudo, foi não sentir o que sentia antes. Ouvir a tua voz, deixava-me a tremer por dentro - o que pode parecer mau, mas era muito bom. Mesmo muito bom. Quem já sentiu isto, sabe do que estou a falar. E depois desligamos. E nada. Não senti o que costumava sentir. E fiquei a perguntar-me: para onde foi aquele loving feeling?