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— Que espécie de lugar é este? - perguntou.
Peguei-lhe pela mão e conduzi-a devagar o resto do trajecto até chegarmos à grande sala onde se localizava a entrada.
— Bem-vinda ao Cemitério dos Livros Esquecidos, Isabella.
Ela ergueu os olhos para a cúpula de vidro lá no alto e perdeu-se naquela visão impossível de feixes de luz branca crivando uma Babel de túneis, passadiços e pontes que mergulhavam nas entranhas daquela catedral feita de livros.
— Este lugar é um mistério. Um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele.
Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar sobre as suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se mais forte. Neste lugar, os livros de quem já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar às mãos de um novo leitos, um novo espírito...
Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo