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pôr-do-sol | s. m.
Momento do dia em que o sol desaparece no horizonte.
O último de 2010.
O primeiro de 2011.
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pôr-do-sol | s. m.
Momento do dia em que o sol desaparece no horizonte.
O último de 2010.
O primeiro de 2011.
Hoje vi o pôr-do-sol, ou o que dele consegui ver, da janela do quarto. De um quarto qualquer - perdido numa cidade que já foi minha - agora meu. Saio e vejo a lua quase cheia, mesmo à direita do Bom Jesus. A lua brilhante no céu negro, e a fachada pálida do santuário. Magnífico.
Falta-me o meu quarto. O meu. As minhas coisas. Os meus livros. Faltam-me os quase 97 gigas de música que tenho no pc de casa.
Sei (ou sinto) que me falta o pôr-do-sol, a praia, o mar, aquele cheiro a maresia. Disseram-me que terá outro sabor ao fim-de-semana. Vindo de quem veio, considero isso como uma promessa, e logo eu que não gosto de promessas, assumo como certo e garantido de que assim o será.
©Blue258
Se há local que eu procuro quando quero acalmar as ideias, é a praia. A minha praia de eleição. Aquela praia. Aquela. Algo de muito particular sucede neste lugar perigosamente mágico. O silêncio ensurdecedor do mar. A força retemperadora das águas. A calma aparente da areia. O perdermos o olhar no horizonte para apenas o encontrarmos depois, ali.
É aqui que venho quando quero silenciar o que me assalta o pensamento. É aqui que encontro a calma e a serenidade que, por vezes, me parecem faltar. Quase sempre consigo deixar que o vento me trespasse o corpo. Que o marulhar me trespasse a alma. É um libertar e um esquecer simultâneos. Não sei como é possível este libertar e esquecer; penso que seja possível pelo facto de nos esquecermos de nós próprios, mesmo que por breves momentos, ou de nos libertarmos daquilo que nos prende. Mas conseguimos. De alguma forma que eu não consigo precisar, conseguimos. Por vezes, e também não sei agora se pela aparente calma do mar nesse dia, se pela insurreição tenebrosa do nosso espírito nessa hora, há dias em que os pensamentos não são silenciados, não, assiste-se apenas a uma redução do volume, são como que colocados em segundo plano, reduzidos a barulho de fundo.
Se há momento que adoro, é mesmo o do pôr-do-sol. Espero sentada, maravilhada. Deixo que o sol desapareça por completo. Aprecio as faixas avermelhadas que mantêm decididas a insinuação no horizonte. Provocam o azul do mar, que se mostra repetidamente mais negro. A noite que nos envolve por completo. O frio que nos diz ter chegado a hora de ir para casa. De partir, e deixar o mar para trás.
The time has come to cast these words from me
And take me to a place where I can be
And I’ve seen the crimson sunset shine a thousand times
And I’ve seen the oceans mystique, tide by tide
And I’ve seen all that’s there to be seen
But I can’t seem to find me
Percorro mais de sessenta quilómetros, apenas para o ver. Para o encontrar, e com ele, abraçar o fim do dia. O relógio, marca as sete e meia da tarde. As horas, que marcam o seu próprio compasso, outro diferente do meu, dizem-me atrasada. Encontro o mar negro de azul, o vermelho intenso do sol, o pálido branco da lua. E eu, teimosa, sussurro, cheguei, ao abraçar-te.
Fly me to the moon
Let me play among the stars
Let me see what spring is like
On Jupiter and Mars
In other words, hold my hand
In other words, darling, kiss me
Ao final da manhã de ontem, e a caminho de Gaia, para almoçar com um amigo, cruzo-me com um belíssimo moreno, trintão, numa carrinha BMW. Ai mãezinha, que tu com um genro destes é que ficavas feliz, penso eu.
Almoço com outro moreno, esse, amigo, amigo de longas horas de conversas, de desabafos, raivas, incursões a horas tardias pelo meu computador, risos e boa-disposição. Boa-disposição que eu sabia que não faltaria, tal como a sangria e a belíssima tarde com que Gaia nos brindou. A francesinha comeu-se fria - prova maior que a conversa foi boa - e daí ter continuado numa esplanada a céu aberto. Quando as pessoas me surpreendem, e pela positiva, quando são ainda mais do que eu já sentia que fossem, sinto-me tremendamente feliz por terem entrado na minha vida.
Parto com o pôr-do-sol a insinuar-se no horizonte. Faço-me à A28, e não resisto a fazer um desvio pela Póvoa e a dar uso à máquina fotográfica. Mas não há pôr-do-sol como em Viana. Não há.
De novo na A28, saio em Esposende - teria de passar lá perto - e aproveito para fotografar os resquícios fulgurantes que pintavam o final de tarde.
Perto de casa, não resisto a passar pela praia, a minha praia, o meu cantinho, meu, tão meu, lindo, tão lindo. O azul negro do mar, as cores que ainda serpenteavam pelo horizonte e uma última fotografia.
Entretanto, surge um convite - e de forma totalmente inesperada - para tomar café, à noite, com outro moreno. Este, de olhos azuis. Minha nossa senhora, e que olhos! Concentra-te rapariga, concentra-te.
Sento-me na esplanada, já molhada de orvalho, e o café que eu deduzia que durasse entre uma a duas horas, prolongou-se até às três da manhã. Falamos de coincidências. De estrelas cadentes - embora eu não tenha visto nenhuma, já que aqueles olhos azuis tiveram o dom de obliterar qualquer outra cadência.
P.S. Chego a casa, ligo o pc, e lembro-me de outro moreno, amigo, grande amigo, com o qual tinha estado a conversar na noite anterior até horas tardias e a viajar pela China. Ficamos de continuar a conversa. De tarde, também me lembrei de outro morenaço, com o qual a conversa também ficou pendente. O dia tem apenas 24 horas. E morenos a mais! Mas eu sempre disse que gostava era de morenos.
Quero ver o pôr-do-sol todos os dias.
Quero amar todos os dias.
Quero sentir-me viva... todos os dias.
Caminhar na praia, sentir a areia nos pés descalços, o frio na pele, a água salgada nas mãos. O sol no rosto. O cabelo ao luar.
Silleda, 12 de Julho
Ah, e a falta que me faz o pôr-do-sol. A praia. A areia. O mar. Os passeios com a cadela (por falar em cadela, sei que está amuada - disse-mo a minha mãe - coitadinha, habituada a dormir comigo e tudo... para a próxima, trago-a).
*E a falta que ainda sinto, do que já sentia aí.