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Soprar-te ao ouvido e mentir-te que não és de ninguém
«São eternos os tempos e as nossas vontades sensíveis, mas não posso ver-te chorar. Quebra-me a alma ao meio por cada gota que me corta a pele. Queria soprar-te ao ouvido e dizer-te que não és de ninguém. Mentir-te porque és minha nas noites em que descobrimos, mais uma vez, o egoísmo do nosso amor.
Não quero ficar despido com as tuas lágrimas em mim. Deixa-me ser eu a levar-te nos braços e carregar teu peso.
Passo por ti em roda, sem te tocar. Os meus pés querem enlaçar os teus e marcar longas carícias. Os braços não se cruzam, abrem-se em outras direcções. E de costas voltadas sentimos o friozinho que nos faz girar. Mas resistimos e num instante soltamos a gargalhada do nosso encontro.
Não tarda, estaremos na cama que por preguiça não fizemos, mas enrolados servimo-nos mutuamente do calor, que nunca nenhum lençol nos soube dar.
Sei que hoje não vais dizer que me amas, bastará a tua pele em mim!»
Liliano Pucarinho, no night indigo