E podia ter sido eu a escrever isto. Podia. Porque me lembro de ti todos os dias. Várias vezes por dia. Porque adormeço contigo no pensamento. Acordo com o teu gosto na minha boca. Não o sabes. Porque não to digo. Porque me controlo, retendo os inúmeros impulsos de te escrever, de te falar. Só alguns escapam ao pesado controlo que exerço sobre eles. Mesmo assim, alguns arriscam-se a rastejar sob o arame farpado. Outros, loucos de saudade, lançam-se sobre o arame, debatem-se, cortam-se, sangram. Não voltava atrás. Ou se voltasse, seria apenas para me atirar de cabeça. Sem ter medo das masmorras e dos crocodilos. Dos meus e dos teus.
How can you mend a broken heart
«O facto de ter passado um ano, juntamente com a quantidade de pessoas que conheço a passar por situações semelhantes, pôs-me a pensar nisto. Como se cura um coração partido? Eu sei que é possível, sei que se cura, porque já o testemunhei. Já vi um coração desfeito curar-se, bem perto de mim. Mas nunca percebi como isto acontece. Sei que a dor vai passando, as feridas vão cicatrizando, vai custando cada vez menos. Mas e a saudade? O que se faz com a saudade? (...)
Quando seguimos em frente, quando até podemos dar a oportunidade a outras pessoas de nos entrarem peito adentro - quando fazemos isso tudo e, mesmo assim, o coração não se cura? Quando mesmo assim ele sufoca quando passamos naquele sítio, quando evocamos aquela imagem, quando ouvimos aquela canção? Eu ainda penso em ti todos os dias, sem excepção. Por todos os motivos, por motivo nenhum. Passou um ano e as saudades ainda tomam conta de mim tantas vezes. Que raio posso eu fazer mais? Além de esperar, de seguir, de te afastar, de (nos) perdoar, de sair, de rir, de (sobre)viver? Tem de haver mais alguma coisa que eu possa fazer. Como se cura um coração que (ainda) é teu, que (ainda) tem o teu nome? Que em tempos esteve nas tuas mãos, indelevel e irrevogavelmente... Como se faz?»
Sofia, Tardes de Chuva e Chocolate
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