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Blue 258

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13
Out10

«Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões. Outras vezes uma palavra é quanto basta.»

 

José Saramago, in Jangada de Pedra

 

 

 

 

 

Encontrado aqui, no Tudo o que tenho cá dentro.

Dos silêncios

07
Out10

«Os silêncios. Todo o tempo é sempre pouco. Todos os momentos são possíveis de serem congelados e suspensos no tempo. E todos os sorrisos são diferentes. E todas as maneiras, todas as palavras, todos os sustos são puro fascínio. Só olhar. Só ficar. Só ver. Só sentir. E os silêncios não incomodam. Há muito que os silêncios criavam angústia e incerteza. E depois as mãos. E depois as palavras. O eco das palavras. O timbre das palavras. O isolamento de tudo em torno dessas palavras. A ausência das palavras.

Os silêncios já não me incomodam.

Quando a única certeza era a de que, mais do que grande parte da população conseguia, mais do que os infelizes que nunca tinham tido a oportunidade, mais do que ter a oportunidade, eu tinha tido tudo nas mãos, um dia. Tinha esperança num novo fôlego, mas tinha a certeza de que nada seria igual, e que haveria alguém que ainda não tinha feito a primeira viagem e no meio dos desígnios divinos e das oportunidades, eu poderia estar a roubar o bilhete da oportunidade a esse alguém. A hipótese era aceite e abafada pela certeza de que nada fora em vão.

Acordei, tinha o bilhete, a passagem nas mãos e corroía-me a alma. Não sei o caminho, não conheço a viagem, não quero saber a duração… pelos silêncios ou pela ausência deles.

Tive sorte. Voltei a acertar nos números.»

 

 

VI

 

 

 

P.S. E em silêncio estava eu. Quebro-o agora, como poderia não o quebrar? Porque não importa o número de seguidores de um blogue, o número de visitas ou de comentários - interessam sim, aqueles 4 ou 5 que valem por mil. E esses, esses, vão para além do blogue.

A emissão retoma-se aos poucos, com palavras dos outros, palavras, simples palavras, música, literatura e fotografia. Pelo menos até eu decidir quebrar o silêncio das minhas próprias palavras.

 

 

 

# 46 Silêncios

22
Set10

 

 

Lá fora a chuva cai sem vontade. O vento embate no mar. Sem vontade. A água decalca a areia ainda quente. Sem vontade. O dia amanhece sem querer. Dentro do quarto, deixamos cair a chuva lá  fora. Mergulhamos mais uma vez por entre os lençóis. Embatemos o desejo nos corpos. Sucumbimos. À nossa vontade.

A minha pele é o mapa da tua viagem. Guarda o perfume do teu corpo como um tesouro. Encerra beijos e segredos. Só meus. E teus.

Beija-me. Aqui. Beija-me outra vez. Aqui. O dedo indica onde se detêm os teus lábios. Aqui. Ali. Aqui e ali. Na minha pele. No meu corpo.

 

Tinha os pés entrelaçados nos teus. Chamei-te meu amor em surdina. Calei-me num sorriso. Disse que te amava num silêncio. E esse silêncio retumbou cá dentro como o mar em dias de tempestade. Sempre disseste que o meu  silêncio diz tanto. Tanto. E diz.  Desenha o meu mundo quando estou contigo. Quando me fazes inteira.

 

 

I'll stop the world and melt with you
You've seen the difference and it's getting better all the time
There's nothing you and I won't do
I'll stop the world and melt with you

 

 

Beijamos como quem faz amor, entretecemos bordados na pele, encetamos viagens sem destino. Tu e eu. Dentro de quatro paredes que deixam de existir no momento em que os nossos corpos se tocam.